Eu, os sentimentos e as palavras

Eu era ainda criança quando comecei a perceber que havia em mim algo que, de certa forma, me diferenciava dos meus coleguinhas. Desde cedo eu despertei paixão pelos livros e tudo que a eles estivesse ligado. Sempre senti emoção forte ao ver um caderno e uma caneta em minha frente. Eu, simplesmente, amava a época de compra de material escolar, parece que aquelas folhas tão alvas falavam para mim que ali estava a minha libertação.

Eu não guardo muitas lembranças da minha infância, é como se eu nunca tivesse me sentido, realmente, inserida no mundo que via ao meu redor. Havia um turbilhão de sentimentos dentro de mim e eu não sabia como expressá-los. Sempre pensava além e diferente das demais crianças, e aquilo me incomodava de tal maneira que eu me sentia alheia ao mundo delas e muitas vezes chorava por não saber lidar com isso. A sensibilidade em excesso é bela, mas deixa você vulnerável a muitas coisas. É preciso trabalhá-la.

Já na adolescência, eu fiz uma descoberta que mudaria o rumo da minha vida. Por volta dos onze ou doze anos de idade eu descobri que conseguia escrever coisas bonitas, que não eram histórias, que não eram nada que eu copiasse de outra coisa, era algo que saia de mim. Foi assim que eu descobri que através da escrita eu conseguia desaguar no papel aquele vulcão de sentimentos e pensamentos que tomavam minha mente e minha alma. E passei a escrever, cada vez mais, e percebi que as minhas amigas gostavam do que eu criava. Aquilo foi me dando ânimo para continuar a encher a minha agenda com letras e sentimentos tantos. Foi exatamente nessa época que eu nasci para o mundo.

Pronto. Eu havia descoberto a chave para a minha libertação.

Escrevi durante alguns anos, mas apenas mostrava meus textos a amigos mais próximos. Os elogios vinham, no entanto, acreditava que não era mais que obrigação deles elogiarem a mim, afinal, eram meus amigos. Certo dia, organizei todo o material que tinha – mais ou menos uns 150 poemas – e mostrei-os ao Dr. José Pereira da Costa, que era meu patrão na época e que tenho como um pai intelectual, ou seja, a pessoa que me estruturou dentro de uma literatura rica e vasta. Através dos livros do Dr. Pereira, conheci imortais como Voltaire e seu cômico Cândido.

Após ler o meu trabalho o Dr. Pereira incentivou-me a lançar o livro e fez com que esse plano se concretizasse em “Simplicidade”, no final de novembro de 2003. Através de empréstimo junto à empresa na qual trabalho, consegui o montante para dar início ao nascimento do meu primogênito. Eu sabia que teria que vender os livros de porta em porta e assim o fiz. Jamais esquecerei a emoção que senti ao deitar meus olhos sobre o primeiro exemplar de “Simplicidade”. Chorei. Um choro de alívio, de esperança, de orgulho, de gratidão. Um choro de campeão.

A partir de “Simplicidade” percebi que poderia ir muito mais longe e não parei mais de escrever. Um ano depois eu lançava, juntamente com os amigos de faculdade, o livro “Letras Reunidas”. Mais um choro, mais uma vitória, mais um passo dado na estrada que unirá em laços concretos e eternos, a minha vida e a minha arte.

Já tenho um outro livro pronto, o “Sensível”, mas não pude ainda publicá-lo, porque custa caro e patrocínio para literatura é algo complicado de se conseguir, principalmente aqui na região. Depois do “Sensível”, lançarei um outro, apenas com crônicas, que ainda não tem nome, mas que já está sendo criado. Os planos são muitos.

Filiei-me recentemente à UBE – União Brasileira dos Escritores e lá descobri que há um projeto de incentivo do Governo Federal, através do ministério da Cultura, que possibilita o patrocínio para publicação de obras literárias. Vou me inteirar sobre isso.

Se me pedissem para analisar a minha poesia e classifica-la dentro de alguma Escola Literária, eu não saberia fazer. Simplesmente escrevo. Minha única regra é ser fiel às minhas emoções. Não imponho barreiras ao expor meus sentimentos. Fico totalmente desnuda na minha poesia e isso, algumas vezes e a depender de quem lê, me rende umas bochechas vermelhas, mas elas logo dão espaço para um sorriso de satisfação ao perceber a aprovação nos olhos do meu leitor.

Procuro uma poesia sincera e simples, assim como é o meu conceito de vida e de felicidade. Uma poesia que seja apreciada não pelas palavras requintadas, mas pelo sentimento expressado de forma clara.

O "Simplicidade" também agradou a pessoas que, normalmente, não alimentam o ato da leitura, mas que conseguiram se encontrar dentro das minhas palavras. Esse foi o meu maior prêmio.

Tenho buscado me inteirar cada vez mais no mundo da literatura, porque sinto que essa força literária que há em mim é muito maior do que tudo o que está ao meu redor e cada vez mais sinto a necessidade de estar criando, escrevendo, publicando.

No final de setembro, esteve em Petrolina o escritor Ariano Suassuna e eu consegui chegar até ele e presenteá-lo com os meus livros. Após a emoção de ver um artista tão querido por mim, segurar em suas mãos, as minhas obras, escrevi uma crônica e consegui fazer com ela chegasse ao Ariano. Desde então, tenho enviado cartas manuscritas (que é como ele gosta) e outros textos inéditos para que ele os leia. O seu assessor, que mantém contato comigo, falou-me que, ao contrário do que normalmente acontece, o Ariano disse que a “menina de Petrolina” escreve bem, muito bem. Isso me deixou ainda mais convicta de que estou no caminho certo.

No dia 29 de outubro do corrente ano, aconteceu no River Shopping, em Petrolina/PE, a 1ª Exposição de Autores do Vale do São Francisco, e em entrevista dada ao Jornal BA-TV (TV São Francisco / Rede Globo Nordeste), da cidade de Juazeiro/BA, a repórter perguntou-me se escrever era um vício, e eu respondi que sim, que escrever era um vício que me fazia bem e que me libertava dos vícios impostos pelo mundo.

Eu enxergo o mundo com um colorido diferente, e normalmente sinto as emoções de forma mais intensa do que as pessoas que me rodeiam. Isso, algumas vezes, me torna incompreendida e me faz sofrer. Mas, ao contrário de antigamente, não sufoco mais o turbilhão de sentimentos que há em mim. Hoje eu tenho consciência da liberdade que há na folha em branco ou na tela de um computador que esperam ansiosas que as minhas palavras sejam desaguadas lá.

A minha mente não para e não cansa. E, para mim, parar de escrever poesia, é parar de viver.

Cinthya Danielle dos Reis Leal
Enviado por Cinthya Danielle dos Reis Leal em 01/11/2005
Reeditado em 01/11/2005
Código do texto: T66020