CRIMINOSO DE ALUGUEL
Há muitos anos tive uma amiga, já nem sei por onde anda, coisas da vida que nos separam de tanta gente querida... Essa amiga, nascida em um estado nordestino famoso pela valentia, tanto histórica quanto a valentia comum, de pessoas de sangue quente e de bofes expostos, me contou algo de que ainda não me esqueci. Foi assim, ela me mostrou a foto (naquela época se dizia mais o termo retrato) de um primo dela. Quase me apaixono pelo belo rapaz no retrato, digamos assim. Foi aí que a distante amiga me disse que aquele primo dela era um criminoso de aluguel, que não mudava a camisa e nem o chapéu para tirar a vida de quem fosse. A ele nada importava a não ser o que receberia pela encomenda. Deixava o corpo furado de balas, estendido em qualquer parte onde houvesse encontrado o pobre coitado. Eram tantos os crimes, que a minha amiga acrescentou que nem daria para contar. Ainda narrou um caso em que o criminoso de aluguel recebeu as indicações do mandante sem muita explicação e, por engano, matou outra pessoa. Claro que o erro teve que ser reparado e pago outra vez, pois ele não se sentia culpado pela descrição inadequada do que deveria mesmo morrer. O mandante tornou a dizer quem o matador deveria liquidar e, sem reclamar, pagou de novo. Ou você acha que não pagaria e preferiria ele mesmo virar defunto? O cara foi lá e botou pra conferir. Ao ouvir as histórias da minha amiga, me senti tonta, pois não conseguia acreditar na possibilidade de alguém fazer do crime um meio de vida. Essas coisas ditas em romance, a gente entende. Ditas em noticiários, a gente vai relevando e esquecendo, mas...assim perto...é de lascar. Fiquemos tranquilos, pois o matador já morreu e não foi morto por um colega de profissão. Morreu de morte natural, morrendo aos poucos...