O QUE FAZER NUM SÁBADO CHATO,QUANDO VOCÊ ESTÁ CHATO , O MUNDO É UMA                                                   CHATICE E A TERRA É PLANA.
Um belo sol me acorda ,estou na Bahia,mais exatamente em Salvador e ao abrir a janela cumprimento o Senhor do Bonfim e me sinto abençoada. Então ,porque essa sensação  de desânimo que me toma de repente e com muito mais frequência do que a desejada?
Sinto-me outsider,sem gosto por nada e sem vontade de nada.E é um sábado!E ,procurando agente acha bons filmes para ver.E, o melhor de tudo tem doce de leite de calda,ambrosia para os mais cultos e doce de leite de corte ,mimo vindo do interior,para mim,alimento dos deuses.
To go ou not to go? copio Shakespeare - ou melhor plagio - mas,agora se pode tudo e ninguém reclama;muito menos o próprio mestre morto faz tempo.A dúvida é se devo sair,se positivo, para onde  e pra fazer o que?Não quero fazer nada...
Sento no terraço e consulto os gatos que me olham expectantes.O que será que essa doida quer fazer,pensam.
Vasculho a cozinha e vejo que me faltam algumas frutas, devo fazer um pequeno pagamento no shopping  .  .Pronto,tenho motivos para sair.Escolho um vestido folgado, um sapato confortável e vou á luta.
Mesmo porque um filho deste país não foge á luta ,mesmo que seja sentado numa cadeira e teclando no computador.
Decido,num impulso, cometer alguma loucura ,um tresloucado gesto que não seja ,obviamente,cortar os pulsos.Decido-me por um bom almoço num lugar onde posso apascentar  saudades. Um lugar onde não vou a muito tempo e cuja comida seja divina.
Claro ,dirigi -me á Gamboa e entrei no Chez Bernard.O novo Chez Bernard,pós o Bernard de antigamente , cujo criador era o mais doce,o mais fino ,o mais elegante restaurantier que havia ,na antiga Salvador  em todos os tempos foi cozinhar na casa do Senhor,faz tempo.
O restaurante , elegantíssimo ,será motivo de um texto especial.Fui uma das primeiras a entrar e pude apreciar,sozinha a finesse do lugar.Encontrei uma mesa junto ás janelas de onde se descortina uma vista magnífica,privilégio de poucos.Pronto,bastou isso e entrei em sintonia comigo mesmo.
Vieram os cardápios e a "carte de vin".Em vez de cardápio,menu,para ficar no clima de" douce France" que o restaurante nos proporciona.As lembranças do passado foram se enfileirando e pedindo passagem.Lembrei-me do melhor prato deles ,o festejadíssimo coq  au vin  e da sopa de cebolas (Soupe à l'oignon),carro - chefe da casa.Nem em Paris se saboreia uma igual,dizia-se na época.
Aceitei a sugestão do maître e tomei uma taça de um bom vinho tinto encorpado que caiu como uma luva no   couvert ,uns bolinhos de bacalhau com tinta de lula,pães e patês  comme il faut.
Para sobremesa Crepes Suzette para lembrar meu marido.Que,invariavelmente  escolhia   essa sobremesa para mim.
Comecei a amar a vida e fui cumprir o resto da agenda ,revigorada pela  refeição e envolvida pela beleza da vista.Apreciar o mar da Bahia na sua plenitude não tem preço.Paris com todo seu encanto  daria tudo  para  ter uma paisagem assim.
 
 
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 18/03/2019
Código do texto: T6600999
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.