Velejando
Velejando
Dois sentados, tomando chopes em bar famoso e requintado, bebida de alta qualidade, inclusive a bière à la pression, panorama marítimo.
O Soling, uma classe privilegiada de veleiros, estava em discussão. Alguns, nunca se sabe o motivo exato, eliminaram o mais sofisticado barco a vela da competição olímpica. Interesse? Monetário, naturalmente, dando ligar outra vez ao antiquado, feio e deficiente Star, barco que quebra o mastro facilmente, nada marinheiro e sem o uso da vela balão, aquela que fica inflada quando o vento é de popa e dá muita velocidade ao barco.
.— Lindo, não? Ainda não entendi o motivo de retirarem da classe olímpica.
.— Não? Safadeza destes organizadores. Ou você vai me dizer que não sabe que mesmo nos esportes a sacanagem come?
.— Não, eu sei, eu sempre soube. Mas até onde a baixaria pode chegar?
.— Até o homem chega.
Uma verdade. Sob todos os aspectos. A cada dia que passa, a qualidade moral e ética decresce. Estamos descendo muito. Estamos descendo demais. Isso para? Ninguém sabe. Falta de saúde, falta de educação, falta de conhecimento, falta de tudo, como pode? A sociedade mundial caminha uma trilha escura, pedregosa, perigosa. E ninguém se dá conta que o abismo pode estar mais próximo do que a Astronomia espera, cinco bilhões de anos para o Sol gastar todo o seu combustível e causar o fim dele mesmo e do seu sistema.
Ora, o tempo é distante, ninguém estará vivo para sofrer e testemunhar. E quem estiver? O calor será insuportável, até secar terras, mares, rios. Seria este o Apocalipse, narrado por São João? Pode ser sim, mas quem garante que está tão distante?
O Soling continuou navegando tranquilamente. O chope continuava maravilhoso, a morena da mesa ao lado cruzara as pernas, o short era mesmo short, curto, as fritas com pequenos torresmos estavam cada vez melhores e o dia seguinte seria sábado!
Todo o prazer renovado mais uma vez!