O AMOR EM TEMPOS DE GUERRA
Hoje acordei saudoso. Saudoso dos tempos dos cabelos longos, barba a fazer, calça jeans desbotada e o andar de mãos dadas com o tempo, certo de que ele nunca iria me abandonar. Dois dedos em "V", o símbolo de uma geração que só gritava paz e amor no fumacê translúcido do capim seco, festejava-se a chegada da Era de Aquário, o signo zodiacal da transformação, da paz, da harmonia. Cantava-se a liberdade, a igualdade, a fraternidade, valores esquecidos nesta geração "arminha com as mãos".
Hoje faz quarenta anos do filme "Hair", o grito de liberdade, o protesto pacífico, a conspiração do Universo para que dois amantes não fossem separados pela guerra do Vietnam. Não por coincidência, a música tema do filme chamava-se Aquarius.
Quarenta anos depois do "Cabelo", uma referência ao estilo hippie, me descubro careca e sentindo o gosto do baseado que nunca fumei. Que direi aos meus netos quando um dia eles me perguntarem:
- Vovô, maconha tem gosto de quê?
Pensando nisso, chego à conclusão de que metade da minha vida foi pro espaço na fumaça aromática do cachimbo da paz que me recusei a fumar.