QUANDO DEVEMOS MORRER?

Outro dia tive um sonho.

Era de tardezinha. Havia chegado do trabalho e, no quarto, resolvi assistir a um filme. Se me perguntarem o nome (do filme)? - No way!

Não demorei muito em frente à TV. O sono logo veio e me dei por vencido. Apaguei.

Quanto ao sonho, não lembro exatamente o que aparecia, mas recordo que era sobre a morte...ou melhor, sobre quando deveríamos (ou poderíamos) morrer. Rsrs

Não sei se ocorre o mesmo com vocês, mas, comigo, as melhores ideias que tenho sobre coisas variadas me vêm quando estou naquela fase do sono “nem dormindo, nem acordado”. É o lusco-fusco do sono. Sabem como é, né?

Pois bem, estava dormindo-acordado.

Lá para as tantas, me veio a indagação que a tantos tira o sono: já que a morte é a única certeza que temos nessa vida, quando isso deve acontecer?

Muitos diriam que a idade avançada é a melhor medida.

Entretanto, se perguntarem a qualquer longevo, certamente eles discordam.

Enfermos terminais, mesmo à beira da morte, nunca (sic) optam pela eutanásia.

São muitas e variadas as opiniões sobre o tema.

Jô Soares, em um de seus programas (também não lembro qual, nem o dia), após a, na época, recente morte de seu único filho, revelou que a vida lhe tinha pregado uma peça e subvertido a ordem das coisas, pois que o natural seria que os mais velhos se fossem primeiro.

Também comungo dessa ideia.

Devíamos morrer sempre antes de nossos filhos e, eles, antes dos filhos deles (nossos netos) e assim sucessivamente.

Essa “disposição das coisas” provavelmente existe principalmente por questão de lógica da vida: quem tem mais tempo de existência, a priori, definha primeiro que seus pretéritos semelhantes.

Entretanto, o amor e o apego dos humanos aos seus descendentes imediatos, via de regra, ordinariamente suplantarão a qualquer outro tipo de afeto. Isso também justifica a predileção por essa ordem natural.

Não amamos ou nos apegamos aos nossos pais ou antepassados mais do que aos nossos filhos. Por mais especiais que sejam, não dá para comparar a ligação afetiva.

Se nos depararmos com uma situação de estado de necessidade em que tenhamos que decidir entre a vida ou integridade física de um filho ou pai, sem sombra de dúvida, o rebento será a escolha.

No sonho eu confirmava esse entendimento.

Mas também me questionava se essa morte (dos pais antes dos filhos), mesmo assim, não deveriam ser precedidas de um certo prazo ou eventos.

Convenhamos: morrer antes dos filhos pode ocorrer de forma precoce e sem termos vivido experiências pelas quais ansiamos muito. Seria por demais trágico!

De repente, num belo dia de sol, de praia, de futebol com os amigos ou no parque com os filhos, puf, morremos!

E aquela pescaria de fim de semana? E a viagem de fim de ano? E o filho que planejamos ter?

Pedro Bial, numa de suas crônicas mais famosas, retratou: ...`` a morte por si só, é uma piada pronta. A morte é ridículo. ... Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário. ... MORRE. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu? O livro que ficou pela metade? ... Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego. Mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular...

Toda morte, ainda que precedente à dos filhos (concordo), deve ser consumada após um prazo e experiências mínimos.

Não é razoável que morramos, mesmo que antes dos filhos (se existirem), sem que eles (filhos) tenham atingido a idade mínima de 18 anos ou a adolescência!

Caso não os tenhamos (Filhos... Filhos? Melhor não tê-los!), não é razoável, também, que isso ocorra sem curtirmos o amor da nossa vida, sem exercermos a profissão-paixão ou sem praticarmos o nosso esporte favorito.

É morte sem graça...

Morro de medo de morrer, mas, se for prá ser, que não sejamos penalizados com a morte sem graça.