E DEUS DEIXOU DE SER BRASILEIRO…
E DEUS DEIXOU DE SER BRASILEIRO…
Parafraseando o ex-presidente -- aquele que hoje se encontra preso na cela d'uma cadeia --pode-se se afirmar: --"Nunca antes na História d'este país… (pausa dramática) … houve uma sucessão tão infeliz de grandes tragédias, massacres, desastres, acidentes, atentados, cataclismos, azares, equívocos, injustiças e insanidades em tão curto espaço de tempo. Tudo isso em meio a uma crise econômica que parece não ter fim. As más notícias parecem se suceder n'uma ânsia sádica de nos retirar toda esperança enquanto colectividade que compartilha um território ensolarado na América do Sul e a língua portuguesa.
Eu, sinceramente, não me permito listar n'este texto as minhas tristezas, mas tenho a suspeita de que o leitor tenha uma lista semelhante em mente. Tenho andado tão triste, como brasileiro, que me vi tomado pela constatação insofismável: Deus mudou de nacionalidade. Alguns podem argumentar que Deus nunca foi exclusivamente brasileiro, mas gostávamos de acreditá-Lo mais nosso diante do milagre de nossa sociedade multiétnica, cordial e, sobretudo, avessa a conflitos.
O Brasil, depois de ter sido Pindorama, a idílica terra das mil palmeiras, chega a uma espécie de vértice onde tudo o que distinguia (nossa natureza, nossa juventude, nossa alegria) parece se tornar uma antítese do que nos acostumamos a ver. Até o jeito relaxado com que encaramos a existência, de chinelo e bermudas n'um boteco de copo sujo, parece não ter mais lugar. Afinal, como celebrar a vida de cerveja em punho quando o ódio anda à espreita e desfere facadas em quem pensa diferente? Como mandar nossos filhos para a escola quando se teme psicopatias e sociopatias em corações adolescentes? Confesso que não tenho encontrado respostas.
Mesmo nossa vizinha Venezuela, que também se referia a si mesma como nacionalidade do Criador, parece disputar conosco essa triste condição de terra abandonada nos trópicos. Se Deus não é mais brasileiro, venezuelano tampouco. Aliás, Deus parece ter se desterrado de vez da América do Sul. Fôssemos místicos como nossos avôs, evocaríamos provavelmente os Sinais dos Tempos diante do fim próximo e, penitentes, rogaríamos o retorno da misericórdia divina.
Debalde, pois, Deus se foi para muito longe. A julgar pelos indicadores econômicos e de desenvolvimento humano, Deus tem preferido ajudar àqueles que mais cedo madrugam, a saber, os orientais. De maneira especial, o Todo-Poderoso tem derramado suas graças sobre o chineses, a despeito de serem ateus e comunistas… Na China, as colheitas têm sido abençoadas e a riqueza, sem precedentes. Enquanto os latino-americanos continuam embasbacados pela "decadence avec elegance" do Ocidente anglo-saxão, a China lança as bases da nova ordem econômica que terá a África como fiel da balança.
Hoje em dia, mais do que qualquer outra nação,
é a China que tem investido e concorrido para promover estabilidade política e desenvolvimento econômico nos países africanos. A Europa e seu colonialismo civilizatório ficaram no passado, mas o brasileiro, em seu complexo de vira-latas, continua se inferiorizando diante dos presunçosos "machos-adultos-brancos-sempre-no-comando", como diria Caetano.
Se Deus é chinês, eu não sei. O que sei é que brasileiro ele não tem sido.
Betim - 16 03 2019