Tio Chico...e a Depressão

Um tempo livre para revirar as gavetas da minha memória, como o assunto do momento é depressão, me lembrei dele...

Órfão de mãe aos doze anos,

Com essa idade começou a beber,

Parou de estudar e, logo cedo foi trabalhar de pedreiro, parte de acabamento, de ma o cheia.trabalhou na construção de Brasília.

Minha mãe tinha um caderno que usou no primário, e eu admirava um desenho, a ma o livre feito de grafite Preto, la estava ela, um rosto de mulher, linda...

Segundo minha mãe, ELA não casou com ele, pois bebia demais.

Por contrariedade da vida, casou com alguém, que também bebia.

Conheceu Paula, mulher, 17 anos mais velha, já tinha netos, quando foram morar juntos.

-Você é louco, passou a casa no nome dela?

Meu avô, estava furioso.

Eu era criança quando ouvi essa discussão.

Meu tio respondeu:

Estava bêbado pai, ela me levou no cartório, e passei a casa no nome dela.

Por que você não se separa dela?

-PAI, seu eu tivesse casado com alguém da minha idade, já tinha matado no muque, ela me enfrenta.

- Você é louco mesmo.

Indignado.

Com o passar dos anos, ficávamos sabendo, quando ele chegava bêbado, ela, mulherão, era forte, dava lhe uma colher de óleo de rincino, abria sua boca, e ia de goela abaixo.

Mas ele era romântico, as vezes, chegava meia noite, num fogo só, fazia serenata...So pra ela abrir a porta.

Nossa, ela xingava e mandava entrar.

Viveram assim, por trinta anos.

Um dia ele chegou em casa, ela estava com ataque de asma, ele se desesperou, não sabia o que fazer, e ela morreu.

Desesperado foi a delegacia, foi um horror, acharam que ele havia matado.

O meu primo foi ao seu socorro.

Ele ficou desorientado.

Um mês depois perdeu a perna, já não bastava a morte de Paula.

Cada dia que passava, mais triste ele ficava.

Um dia na casa de uma irmã, outro na casa de outra.Mas ninguém conseguia tirar lhe a tristeza.

Seis meses após o falecimento de Paula, era natal...Ele não quis sair, ficou isolado.Sempre falava que queria a morte.

A meia noite socorrido, pedia para não morrer, foi tarde a consciência de querer a vida, a tristeza, a depressão causou lhe o seu fim...

A casa?

Após, o falecimento de Paula, os filhos dela decidiram que ele ficaria lá enquanto vivesse.Mas ele não conseguia ficar sozinho la.

Como ele dizia:

Ela era minhas mãos e minhas pernas...Ela se foi e, logo ele também.No dia 25 de dezembro de 1.996, com 56 anos.

Lilian Meireles
Enviado por Lilian Meireles em 16/03/2019
Reeditado em 16/03/2019
Código do texto: T6599066
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