MAIS PORTÕES; MENOS GRADES!

Por mais perigoso que possa ser, não há outra solução para os problemas criados pela humanidade senão a própria.

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É justo, compreensível e natural as reações de pavor, angústia, repulsa, ódio, tristeza, incredulidade e desesperança de milhares, senão milhões, diante do caso já mundialmente conhecido como o massacre de Suzano-SP (assassinato de 9 pessoas e o suicídio de uma, na Escola Estadual Raul Brasil, em 13-03-2019).

O governador do Estado, em uma de suas entrevistas ao vivo para um canal de tv no dia do fatídico, estendeu condolências às famílias das 8 vítimas, mas ignorou as dos causadores da mortandade, inclusive a do adolescente que, segundo as investigações, cometeu suicídio após matar o seu companheiro no massacre.

Embora talvez não tenha sido esta a intenção, a nítida impressão que fica é que o governador entende que somente as famílias das vítimas diretas sofriam naquele momento com a tragédia.

É difícil, até para os especialistas experientes, identificar onde o nível de alucinação é maior: se da parte dos cometedores do massacre ou dos que não conseguem (ou preferem não) admitir que não se trata tão pura e simplesmente de uma questão de posse e/ou porte ou não de armas ou mesmo de Segurança Pública.

Não se trata de crime comum ou previsível – “estamos diante do imponderável”, é o que dizem todos os especialistas ouvidos.

Se o Estado conseguir, simplesmente por meio de ações de coerção e emprego da força, impedir que fatos como este voltem a acontecer em escolas, acontecerão nos cinemas, nos shoppings, nas igrejas, feiras, metrôs, parlamentos, praias, etc.

Assassinos desse tipo não são apenas assassinos; são também defuntos – pessoas que, apesar de continuarem se movimentando, há tempos, já morreram. São pessoas para as quais a vida, se algum dia já fez, não faz mais sentido; pessoas que, há muito, não conseguem mais separar ficção de realidade. Atitudes como a daqueles jovens não é questão apenas de segurança pública ou privada. Trata-se de flagrantes sociopatias. Estamos gravemente doentes. Reconhecer nossa enfermidade pode ser o primeiro passo na busca da terapia eficaz.

Quanto aos debates sobre como aumentar a segurança nas escolas e a eficácia da educação familiar, a maioria das contribuições (senão todas) são válidas e merecedoras de consideração.

Particularmente, porém, reduzir as grades do território escolar e enlarguecer os portões, pra mim, seria uma das medidas mais eficazes, embora polêmica e ousada.

A escola – embora, nitidamente um instrumento de controle – surgiu para ser escola, não quartel, fortaleza ou coisa do gênero. A sociedade não deve se tornar refém do medo e de seus próprios demônios. É mais válido enfrentá-los – “(...) e ele fugirá de vós”.

Ao invés de ficarem trocando acusações, e uma tentando regular a atividade da outra – como é a regra no Brasil –, Escola e Família devem atuar juntas, e não apenas metafórica, mas literalmente.

É perniciosa, verdadeiramente nociva, a tão arraigada cultura – principalmente nas redes públicas – dos pais aparecerem na escola dos filhos apenas quando são convocados; e, muitas vezes, se aparecerem “de penetra”, não serão bem vindos.

Nesse particular, vale recorrer, inclusive, à legislação vigente no País (ECA/90, por exemplo), que assegura o direito ( e também impõe o dever) das famílias participarem da rotina da escola, desde o planejamento pedagógico, inclusive.

A relação Escola-Família deve se inspirar na relação conjugal: pautar-se, entre outros pressupostos, na cumplicidade, reciprocidade e confiabilidade. Tem que ser um contrato social bilateral de confiança. Tem que haver mais transparência de ambas partes; menos vaidades, menos inflação de ego, menos grades e mais portões; menos barreiras e mais pontes.

A humanidade é relacional. Não fomos feitos (ou criados) para o isolamento, o desdenho, a indiferença, o desprezo ou a inferiorização.

Ets não virão aqui cuidar de nós.

Nós somos nosso principal problema. Temos que ser, também, a solução.