PREFIRO NÃO PENSAR

A Política está para a resolução dos conflitos sociais quanto à intervenção médica para a restauração da saúde.

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“Eu quero deixar claro que não sou filiado(a) a nenhum partido político”.

Quem já não ouviu esse enfático esclarecimento de alguma pessoa ao iniciar – ou em algum momento durante – sua fala em um debate público?

Com bastante desapontamento, quase diariamente ouço no meu local de trabalho essas e outras do gênero como, por exemplo: “eu não misturo meu trabalho com política”; ou “eu não me envolvo com esses assuntos porque não gosto de me meter em confusão”.

A criminalização da Política, sempre em alta no Brasil – e com uma tendência de recrudescimento nos últimos anos –, é, talvez, o maior e mais pernicioso desserviço que se pode prestar a uma sociedade tão ignorante nesse aspecto como a nossa. Essa situação se torna mais grave e mais perigosa quando tal postura – consciente ou involuntariamente – é assumida por agentes tão influentes e tão abrangentes quanto os professores. E essa postura (de criminalização do fazer político docente) sempre esteve muito presente nos círculos pedagógicos e, mais assustador, mesmo diante da flagrante profunda alienação do brasileiro comum, ela tende a se fortalecer, e não a definhar entre os educadores, como era de se esperar.

A Política está para a resolução dos conflitos sociais quanto à intervenção médica para a restauração da saúde. Criminalizá-la ou descartá-la como principal via de mediação desses conflitos equivale a condenar ou desaconselhar o ato médico como meio de restaurar a saúde do paciente.

O filósofo e educador brasileiro Mário Sérgio Cortella, falando sobre o compromisso político do professor, afirma que “uma parcela do que estamos fazendo nas escolas é socialmente irrelevante”; é apenas o “cumprimento de dever”. E faz um apelo: “Eticamente, é quase um clamor que nós ultrapassemos esse mundo da tarefa e cheguemos ao mundo da política com aquilo que fazemos”.

Falando em ética, é exatamente para prestigiá-la que não posso concluir este introito sem DESTACAR (assim mesmo, em caixa alta) a serena, porém decisiva, firme... determinante postura da Dr.ª Samile Alcolumbre, promotora de Justiça de Laranjal do Jari no episódio da cessação (em andamento) da Escola Estadual Prosperidade.

Isso, nem de longe, me faz ignorar a relevância da atuação dos demais atores. O destaque a atuação da representante do MPE é pelo choque cultural que tal postura provoca e pelo valor pedagógico que a mesma imprime sobre a nossa sociedade, em particular à comunidade docente de nosso município, que tão tenazmente, via de regra, resiste à inadiável e inevitável realidade de se assumir como sujeito político, agente crítico e mobilizador da sociedade. Isso, repito, é grave, comprometedor e, pra mim, em particular, assustador!

O MPE tem prerrogativas suficientes para, em casos como este – depois de oito anos (2011-2019) de uma recomendação sua não atendida e persistência do problema denunciado –, simplesmente impor o rigor legal, ajuizando ação contra os [ir]responsáveis pelo não comprimento das demandas identificadas. No entanto, ela, mesmo não tendo sobre os ombros, por força de ofício, a mesma responsabilidade com a mobilização da comunidade e a promoção do debate político que, também por razão de ofício, têm os docentes, optou por uma saída política. E, até o presente, tudo leva a concluir que fora extremamente feliz e exitosa.

O que seria de nós sem a Política?

Como resolveríamos os nossos tantos conflitos sociais? Apenas pela letra da lei? Com o emprego da força?

Prefiro nem pensar...