CARIDADE, VERDADE.

CARITAS IN VERITATEM. ENCÍCLICA DE BENTO XVI.

FRATERNIDADE, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

E SOCIEDADE CIVIL

" A (caridade na verdade) coloca o homem perante a admirável experiência do dom. A gratuidade está presente na sua vida sob múltiplas formas, que frequentemente lhe passam despercebidas por causa duma visão meramente produtiva e utilitarista da existência. O ser humano está feito para o dom, que exprime e realiza a sua dimensão de transcendência. Por vezes o homem moderno convence-se, erroneamente, de que é o único autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade.

Trata-se de uma presunção, resultante do encerramento egoísta em si mesmo, que provém — se queremos exprimi-lo em termos de fé — do pecado das origens. Na sua sabedoria, a Igreja sempre propôs que se tivesse em conta o pecado original mesmo na interpretação dos fenômenos sociais e na construção da sociedade. « Ignorar que o homem tem uma natureza ferida, (inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no domínio da educação, da política, da ação social e dos costumes. No elenco dos campos onde se manifestam os efeitos perniciosos do pecado, há muito tempo que se acrescentou também o da economia.) Temos uma prova evidente disto mesmo nos dias que correm. Primeiro, a convicção

de ser auto-suficiente e de conseguir eliminar o mal presente na história apenas com a própria ação induziu o homem a identificar a felicidade e a salvação com formas imanentes de bem-estar material e de ação social.

Depois, a convicção da exigência de autonomia para a economia, que não deve aceitar « influências » de carácter moral, impeliu o homem a (abusar dos instrumentos econômicos até mesmo de forma destrutiva.) Com o passar do tempo, estas convicções levaram a sistemas econômicos, sociais e políticos (que espezinharam a liberdade da pessoa e dos corpos sociais e, por isso mesmo, não foram capazes de assegurar a justiça que prometiam.) Deste modo, como afirmei na encíclica Spe salvi, (elimina-se da história a esperança cristã), a qual, ao invés, constitui um poderoso recurso social ao serviço do desenvolvimento humano integral, procurado na liberdade e na justiça. A esperança encoraja a razão e dá-lhe a força para orientar a vontade. Já está presente na fé, pela qual aliás é suscitada. (Dela se nutre a caridade na verdade e, ao mesmo tempo, manifesta-a.) Sendo dom de Deus absolutamente gratuito, irrompe na nossa vida como algo não devido, (que transcende qualquer norma de justiça.) Por sua natureza, (o dom ultrapassa o mérito; a sua regra é a excedência.) Aquele precede-nos, na nossa própria alma, como sinal da presença de Deus em nós e das suas expectativas a nosso respeito. A verdade, que é dom tal como a caridade, é maior do que nós, conforme ensina Santo Agostinho. Também a verdade acerca de nós mesmos, da nossa consciência pessoal é-nos primariamente « dada »; com efeito, em qualquer processo cognoscitivo, a verdade não é produzida por nós, mas sempre encontrada ou, melhor, recebida. Tal como o amor, ela « não nasce da inteligência e da vontade, mas de certa forma impõe-se ao ser humano ». Parênteses nossos.

A EXPRESSÃO QUE ENVOLVE OS DIAS ATUAIS É MARCANTE.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 14/03/2019
Código do texto: T6598211
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