Ford, fechamento da fábrica.
A minha filha me perguntou o que eu achava do fechamento da Montadora Ford em São Bernardo, pois como sabem , eu trabalhei lá por quatro décadas.
A minha resposta foi rápida; " Multinacionais não exportam crises, se não atingem suas metas, mudam de lugar e pronto".
Esperavam um lucro de 8% para 2018 e só alcançaram 3,5% , que em valores representam USS 3,7 bilhões , menos da metade do que arrecadou em 2017.
A Ford do Brasil embora seja imensa, representa apenas 3% da Ford Mundial . Várias fábricas se fecharão neste ano , as Plantas da Argentina , uma da Espanha e outra da França, e abrirão novas Plantas em outros lugares, as Montadoras trabalham assim, vão aonde estão as oportunidades de negócio, não são instituições de caridade, visam unicamente lucros.
A América Latina acumulou um prejuízo de USS 4,2 bilhões de 2012- 2017, e a Ford tem uma participação de mercado de 9,7% , foram ao seu limite.
Trabalhei na Área Comercial durante anos, e vivia com a faca no pescoço, a cobrança por metas é absurda e quase desumana, leva um profissional ao estresse. Pagam bem , não resta dúvida, mas eu voltava feito um trapo para casa. Assim devolvem os chefes de família aos seus lares, depois se sugarem todo o seu sangue.
Quando saia de férias desligava o celular, ficava incomunicável para evitar que me ligassem, mesmo o celular sendo meu , particular, pois quando precisavam não se faziam de rogado , te ligavam com aquele papinho; " Olha , sei que você está de férias e tal...mas sabe, aconteceu um probleminha e se "puder" dar um pulinho aqui, é rápido ...". Tinha direito a 30 dias de férias, o que era impossível pegar, normalmente acumulava férias e saia quando já iria estourar, e sempre entre 15 e 20 dias, deixando um saldo para "sabe Deus quando ".
Me vi trabalhando depois do horário inúmeras vezes ( sem remuneração) , às vezes sem ter conseguido almoçar, pois a diretora marcava reuniões exatamente no horário de almoço para avaliar planilhas de custo, sem o menor constrangimento. Muitas vezes ficava esperando na porta dela por um tempão, e quando abria, dizia seca; " Hoje não vou atender mais ninguém, volte outro dia".
Não me sentia vivo, era apenas um instrumento , uma máquina com um coração dentro do peito, tinha uma vida boa em casa, carro bom , podia viajar, ir ao Shopping e voltar com sacolas, mas era infeliz demais, estava massificado por sistema absurdo.
As grandes empresas são assim, sugam a alma, principalmente dos funcionários que lidam com a parte comercial e financeira, como no meu caso.
Quando olho para trás não sinto amor por esse lugar, sinto apenas orgulho de mim, da coragem que sempre tive para lidar com adversidades, mas honestamente digo; " Se querem fechar que fechem , vão com Deus !".