conversar, filosofar e fazer amor com a mesma pessoa

Você me perguntou como andava minha fé na humanidade, no brasil e nas pessoas. "De muletas" -respondi. E você sorriu sem poder me acusar de negatividade dessa vez. Eu senti que em você havia um fio do desânimo da mesma forma que sabia que nossos olhares nos eram consolo, e deitei minha cabeça no seu ombro. Gripe? Você perguntou. E eu respondi com a pretensão de quem tem todas as soluções: ou é gripe ou é amor... os sintomas são os mesmos.

Você não acha que que esse ano está meio pesado? Perguntei em pensamento para não aumentar sua angustia, mas foi como se você tivesse escutado e falou sobre os meninos de Suzano, a propagação da violência, as milícias e as consequências das disputas de poder. Apertei meus olhos antes que terminasse. Fingi distração. Não queria alimentar sua melancolia. Você era meu maior ponto de sossego. Acha que melhora logo? Falei em voz alta dessa vez.

- O mundo? “Nós dois”! Pensei. Mas respondi com firmeza:

- Não. A minha gripe.

E você disse sorrindo que gripe levaria uns três ou quatro dias, mas não saberia responder se fosse amor. Por um segundo, faltou ar nos meus pulmões. E eu te olhei fixamente antes de analisar se quando decidiu desistir da nossa história, você sabia o quanto era bom conversar, filosofar e fazer amor com a mesma pessoa. E o quanto essas conexões são cada vez mais raras. “Amor e tosse, não dá para esconder”, você falou depois de perceber o meu olhar. Teu abraço é minha vitamina C, e eu ainda queria que tivesse ficado – pensei mais uma vez sem te falar. E você, sensato por ter ido embora mesmo sabendo que a nossa conexão existe sim, me deu um meio sorriso enquanto prometia que não perderia a fé no mundo. "Obrigada!" Falei com a boca e senti no estômago toda a carga do mundo, do amor e da imunidade baixa que sua sensatez me causa.

#TextosDeQuinta