CARIDADE NÃO SE AFINA NEM NECESSITA DE IDEOLOGIA.
Se o que impulsiona a pretensa caridade é ideologia não temos caridade, mas política de interesses. A caridade é um sentimento autônomo, transita pelos bons sem requisitos firmados como sucedâneo de resultados.
Quem clama por caridade, vincado em ideologia, na resolução e saciedade de necessidades materiais, não é caridoso, é falsário dos sentimentos. Mente para os parvos e desaparelhados. Mentir para si mesmo não tem embasamento nem precisão, faltam condições de alcance mais profundo para entender simplicidades maiores, e menores.
A distinção política não deve e não pode abrir espaço no seguimento religioso que elege a caridade exclusivamente como meio. Se assim faz, fenece em desígnio.
"Papa João Paulo II foi duro para a América Latina com esse rumo que a igreja por parte de alguns abraçava e elegia como caminho preferencial, desvirtuando pela interpretação respeitável mas equivocada, as disponibilidades evangélicas para a feitura de justiça.
Desde a antiguidade até a segunda metade do século XIX não era o comunismo um sistema sem divergências, teoricamente, uniforme e harmonioso. Como pretendê-lo gestor de espiritualidades, ainda que aparentemente, buscando minimizar a pobreza?
A tônica central da tese comunista, a propriedade privada, gerou vários encaminhamentos. Uns queriam afastada qualquer propriedade, outros somente a propriedade agrária. Coube a Marx imprimir conceito doutrinário ao comunismo, avançando para abrigar muitas consciências, intelectualizadas ou não, pela extremada via da revolução pela força, com a supressão das liberdades individuais, ou seja, o culto do absurdo de retirada da liberdade .para realizar igualdades que nunca surgiram.
O nó que um dia desataria a escravidão da vontade pela supremacia do Estado diante do homem, está e estava justamente na supressão de seu maior bem, a liberdade; isto é verdade axiomática sem condições de ser contraditada.
De nada serve a vida sem liberdade e Cristo não professou de forma alguma sua perda pelo homem, bem ao contrário. Seria a abolição da vontade, e o que Ele mais enfatizou para seguir seu Pai foi a liberdade de escolha do homem, o exercício da vontade, soberana e inerente ao direito de cada um, direito fundamental. Cristo não veio para aprisionar vontades mas para libertar o sentido de discernimento e da avaliação indicando caminhos.
Quando a “Confederação Anticomunista Latino-americana” se dirigiu ao Papa João Paulo II pressionando pela expulsão da Igreja dos “bispos marxistas e padres guerrilheiros”, e que emitisse seu julgamento dos rumos que se desenhavam, a voz forte, segura e didática de João Paulo II se fez sentir em seu discurso no velho Seminário de Palafox diante de um auditório ansioso e ao mesmo tempo taciturno e cabisbaixo. Lá estavam cardeais, padres, membros de ordens religiosas e leigos. Disse então a autoridade papal de uma das maiores personalidades já vistas pela igreja: “Essa noção de um Jesus político, um revolucionário, o subversivo de Nazaré não se harmoniza com os ensinamentos da igreja.” E acresceu: “A igreja não tem necessidade de recorrer a sistemas e ideologias a fim de amar, defender e fazer a sua parte para a libertação do homem. A Igreja encontra em sua própria mensagem a inspiração para trabalhar pela fraternidade, justiça e paz contra todas as formas de dominação, escravidão e discriminação, contra a violência, os ataques à liberdade religiosa e os atos de agressão contra o homem e a vida humana.” De meu livro "A Inteligência de Cristo".