Diquinho

“Se você não existisse, que falta faria?”, pergunta-se Cortella. Essa frase instigou as respostas que darei, mas engana-se quem pensa que falarei no geral, não, falarei no particular. Existem pessoas que passam despercebidas, mas que tem uma gigantesca importância. Afunilarei minha fala, direi apenas no que concerne ao meu tio-avô Diquinho!

Quando criança ouvia muito dizer que fulano ficou para titia ou titio. Tio Diquinho foi um desses, embora não tenha gerado nenhum filho teve vários, assim como netos. Foi um tio-avô que soube exercer seu papel. Suas risadas ainda soam em meus ouvidos quando me pegava de surpresa me dando um beliscão nas costelas — como doía...uma dor precedida de risadas dele e correia minha. Quando não, pegava-me no colo pondo-se a me fazer cócegas, sempre com aquela gargalhada reprimida. Como gostava de brincar...!

Não poderei esquecer de seu dominó nas tardes ensolaradas de sábados e domingos. Os amigos se achegavam e logo era servido um café amargo adocicado apenas pela doçura da amizade, mas alguns além da doçura da amizade traziam também açúcar. Não gostava de café doce! As tardes se alongavam com piadas, risos, batidas fortes das pedras na mesa. Como era bonito de ver aquilo.

Tinha um hábito peculiar aos finais de tarde: tomar banho de igarapé, banho este que se resumia em dois ou três mergulhos no máximo.

E, se ele não existisse, certamente teria feito muita falta. Criou seus sobrinhos em companheirismo com minha vó, que também não se casou. Chamá-lo somente de tio seria injusto, pois também foi meu avô!

Duas coisas que nunca vi no que lhe concerne: preocupado e doente. Apenas bravo quando nossa tentação de criança era demais negligenciando suas ordens. Como sempre deu drible nas doenças, espero que passe logo por essa que lhe levou à internação hospitalar. Força guerreiro!