Recordando minha gaveta de sapateiro

Hoje li com muito prazer um texto de Karolina Goiana, "O que você tem na sua gaveta?". Pois bem, lembrei de uma maltraçada que escrevi aqui em 18/07/17. Não, a crônica de Karolina é muito superior e tem conotação literária e filosófica. É linda. Mas como ela falou em gaveta onde se guarda tudo, eu recordei tanto do meu texto como da minha gaveta. Vou - mesmo sabendo que não vale a pena ler de novo - transcrever a maltraçada:

Gaveta de Sapateiro e Poema

D'Artagrnan Ferraz

"Tenho num velho birô uma gaveta especial que um irmão chama de "gaveta de sapateiro". Nela guardo de tudo, toda espécie de trecos e coisas que, à primeira vista, não servem para nada, mas nunca se sabe... Dizem que gaveta de sapateiro é assim, tem de tudo. Só abro a danada de tempos em tempos, em 'edição extraordinária', ou seja, quando falta algo inusitado prcuro na benidya gaveta. Vou fazer um parêntese, parece até conversa de bâbado. Mas é para tentar e jusificar o foco (gostaram do termo?) desta maltraçada. Houve um tempo, década de setenta quando eu era xiita e crítico feroz da ditaduraque quando me isolava para ller meus romances de Garcia Márquez, Vargas Llosa, Caros Fuentese o scambau de romancistas latino-americansos, inclusive historiadores como Galeano, eu er chegado a tomar vinho, e naquela época só tomava vinho que considerava ótimos, er o caso do Chateau Duvalier e Chateau D'Argent. E tinha o hábito de guardar as rolhas (cortiças como dizemos aqui). Apois, como dizia a minha desaparecida amiga Vera Morena, a Senhrita Vera, fui abrir um dia desses uma garrafa do pernambucano Boticelli e a rolha se esfalerou dentro, tive que procurar outra rolha, não ia perder a garraf de vinho. Onde achar outra rolha? Ora, na gaveta de sapateiro. Achei, uma rolha antiga de Cahteau Duvalier, deu certinho para botar no Boticelli. Fecho parêntese.

Mas ermanos e hermanas, procurando a danada da rolha, além de uns espirros que poderiam gerarma crise de asma, enontrei uka velha agenda detelefones, ainda do tempo que os telfones em Pesqueira só tinham três numeros. Passei a vista, alguns nmes recordei, outros não, mas aí encontrei pegadinho na capada agendidnha um papel amarelado jpa quase esfarelado. Sabem o que era? Um poema que fiz em 1977, numa época que, pasmem, nçao fazia autocríticae pensava que qualquer caçadorde ticacas odia cometer um poema. Tinha dois títulos, o primeiro "Suponha" e ao lado outra sugestão, "Sossegue a Piriquita", como o Suponha estava riscado, acho que valia o segundo. Lembro que como escrevia uns textos para o jornal Nova Era, da Docese, não riam, levei para o diretor, Padre Zé Maria, ele leu o "poema" e começou a rir, ra que embolava, desisti e guardei o poema, uma merda de poema, mas que de certa forma faz parte da minha istória "literária" (e bota aspas nesse veia literária). Apenas por gozação comigo mesmo vou transcrever o poema que estava encarcerado na gaveta de sapateiroi há 40 anos:

"Suponha apenas suponha/ Que o sonhoque você sonha/ Nada tem a ver com a realidade/ Que está a anos luz da verdade/ Que com toda certeza/ tua pretensa grandeza/ é só ma mera fantasia/ de uma noite de verão/ gerada or uma ambição vadia/ uma baita alucinação/ que vai fazer você desertar nu em pélo/ tremendo deis de um pesadelo.// Acredite, meu irmão/ que confiar na ilusão/ é sucumbir à fantasia/ desconhecendo o que é a utopia// Não, irmão, não desespere/ tome tentoe não delire/ a vida é curta e fugaz/ é melhor tocá-la em paz/ distante dessa onda de ambição esquisita/ sossegue, sossegue a piriquita".

Não, não me envergonho d poema, sei que retrata apenas uma tentativa vão de alguémque, ainda jovem. quer dizer jovem vírgula, tinha 34 anos, era esse do retratoque está na minha página. o atual não boto nem a pau, enfim, ha muito sei que não possuo veia poética, mas fica a retensão. Mas vou confessar uma besteira, datilografei o danado do poemae mandei botar num quadro que vou pregar na parede. Acho quedevemos nos orgulhar atéds besteras que cometemos. Faz parte do show da vida. Juro.

Pronto, recordei minha gaveta de sapateiro. Inte.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/03/2019
Código do texto: T6595570
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