Não as esqueci...


               Dizem que a mulher é o sexo frágil/ Mas que mentira  absurda!/Eu que faço parte da rotina de uma delas/ Sei que a força está com elas"
                              Erasmo Carlos

     
1. Ana Paula, minha generosa e paciente leitora, acaba de me cobrar uma crônica sobre o Dia Internacional da Mulher. Mandou-me um bilhetinho à moda antiga, ou seja, escrito à mão numa folha de caderno. Nada de E-mail, nada de WhatsApp, nada de Facebook, nada de Menssenger. 
     
2. Ana não é apenas mais uma leitora deste insignificante cronista. Ela é, também, uma doce e diria permanente  lembrança. Ana foi minha namorada, num tempo qualquer, do século passado. Hoje, com nossos "cabelos cor de prata" , somos bons amigos; bons amigos, simplesmente... Ela seguindo o seu caminho e eu o meu; ela feliz e eu também.  
     
3. Lembro-me que ela gostava do poema "Adormecida", do poeta Castro Alves - "Uma noite, eu me lembro... Ela dormia/ Numa rede encostada molemente.../ Quase aberto o roupão... solto o cabelo/ E o pé descalço do tapete rente. 
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De um jasmineiro os galhos encurvados,/ Indiscretos entravam pela sala,/ E de leve oscilando ao tom das auras,/ Iam na face trêmulos - beijá-la. 
Era um quadro celeste !... A cada afago/ Mesmo em sonhos a moça estremecia.../ Quando ela serenava... a flor beijava-a .../ Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia..."
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Eu, fitando esta cena, repetia/ Naquela noite lânguida e sentida:/ "Ó flor! - tu és a virgem das campinas!/ "Virgem! - tu és a flor da minha vida!..."
     
4. Sempre achei que uma das melhores maneiras de cortejar as mulheres é lhes dando flores e lhes recitando versos.
     Se você é poeta, ótimo; se não o é, faça-o  com a poesia de vates que, inspirados, cantam o encanto feminino, em poemas imortais. 
     
5. Como o fez Álvares de Azevedo (1831-1852), em "O lenço dela" -  "Quando, a primeira vez, da minha terra/ Deixei as noites de amoroso encanto,/ Minha doce amante suspirando/ Volveu-me os olhos úmidos de pranto.  ==  Um romance cantou de despedida, / Mas a saudade amortecia o canto!/ Lágrimas enxugou nos olhos belos.../ E deu-me o lenço que molhava o pranto. ==  Quantos anos, contudo, já passaram!/ Não ouvido porém amor tão santo!/ Guardo ainda num cofre perfumado/ O lenço dela que molhava o pranto... ==  Nunca mais a encontrei na minha vida,/ Eu, contudo, meu Deus, amava-a tanto!/ Oh! quando eu morra estendam no meu rosto/ O lenço que eu banhei também de pranto!"
     
6. Com a ajuda valiosas dos poetas, saúdo as mulheres na pessoa de Ivone, minha companheira há cinquenta e quatro anos. Com ela, escrevi dois belos poemas: Paulo Fernando e Adriano, meus filhos. 
     Saúdo Ana Paula, capítulo de minha história, que não me deixou esquecer, involuntariamente, claro, o Dia Internacional da Mulher. 
 

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/03/2019
Reeditado em 12/12/2020
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