O DIÁLOGO.
- Ela, o beija-flor, aquele mesmo de outrora, veio novamente ao castelo de cristal, com toda sua beleza, com todo o seu esplendor, e como sempre faz, pousou em minha janela.
- O que fizeste a respeito meu senhor? O que se diz em todo reino é que ela não aparece já há muitas primaveras, e a propósito, se realmente o que dissestes seja verdade, qual o motivo que a trouxe novamente, e como pode tal façanha sem que a tenhamos visto?
- Caríssimo amigo, essa história não está muito bem contada, existem algumas variáveis não consideradas nessa complicada equação de nosso tempo passado.
- O quê, por Deus, não está muito bem contado? O que escondes de mim senhor? E que variáveis são essas?
- Perdoe-me amigo… Perdoe por não ter lhe contado antes.
- Como podes fazer tal! O que escondes afinal, de tão valioso?
- O beija-flor, aquele mesmo de outrora, frequentemente aparece nesta torre, aos olhares dos demais súditos, e do próprio rei aliás - meu pai - ela é apenas uma ave voando nos entornos do castelo, pousando aqui e acolá. Mas saiba razão, que essa ave majestosa, é, e sempre será ela, não se engane. Difícil explicar eu sei, um dia você vai entender.
- Escondestes de mim esse segredo muitíssimo bem, justamente eu, seu súdito leal, como podes?
- Acreditas em mim?
- Jamais duvidei de ti meu príncipe, jamais, sabes disso, desde tenra idade, sempre acreditei em cada uma das tuas histórias, agora que és príncipe, eu continuo a acreditar, embora eu seja o único.
- Eu sei meu amigo... Eu sei, mas tudo tem o seu tempo certo, em breve lhe explico tudo quanto aconteceu.
- Por favor, meu jovem príncipe, conte-me o que aconteceu, conte-me agora.
- Tudo bem... Lhe conto.
- Obrigado jovem príncipe, muitíssimo obrigado.
- Era novembro, eu bem me lembro, o jardim banhado em ondas de luz rodopiantes, o luar prateado por sobre a mata, os seres da noite fazendo serenata. Eu bem me lembro, daquele olhar reluzente, daqueles toques quentes despertando paixão. Eu bem me lembro, daquele nosso último novembro, quando o rei então nos viu, no primeiro beijo juvenil. Proibiu-me de vê-la enquanto vivesse, e aprisionou-me nesta torre do peito. Foi então caro amigo razão, que as fadas do primeiro reino, a meu pedido, condoídas por esse meu amor, com poderosa mágica em beija-flor a transformou.
- Santo Deus! Então foi esse o verdadeiro ocorrido... Pensávamos que ela tivesse sido levada pelos ladrões do reino escuro.
- Para todos os efeitos, amigo Razão, ela foi levada, e peço-te, fiel companheiro, que guardes este meu segredo enquanto viver.
- Prometo, vou guardá-lo com a minha própria vida, o teu segredo estará a salvo.
- Obrigado amigo, pode se retirar, desejo ficar a sozinho.
- Sim amigo, como desejares.
- É Março, dias ruins, e como todos os outros, nada tenho a fazer do que observar. Meus pensamentos são como o vento, como a brisa que sopra vindo do norte. O beija-flor, o meu beija-flor, aquele mesmo de outrora, ainda não sabe todos os motivos que me transformou em prisioneiro, pretendo, se possível for, jamais revelar tal segredo.
- Estarei sempre por perto, caso necessite da razão.