Uma música, uma história
Isolda e Milton Carlos eram irmãos e parceiros na arte de compor músicas, algumas fizeram muito sucesso na voz de Roberto Carlos, como “Jogo de damas”, "Um jeito estúpido de te amar" e "Pelo avesso".
O maior sucesso de Isolda aconteceu justamente quando pela primeira vez ela compôs sem o irmão Milton Carlos: Outra vez. Gravado inicialmente por Roberto Carlos em 1977, essa música incendiou as rádios de todo o Brasil com dezenas de gravações por outros intérpretes e depois rompeu fronteiras, indo parar em gravadoras estrangeiras. Em 2008 voltou à baila integrando a trilha sonora do filme "Meu nome não é Johnny", que se tornou campeão de bilheteria nesse ano.
“Outra Vez” lembra um fim de um relacionamento amoroso, de uma separação sem trauma, sem mágoa, tão incomum nos fins de casos. Quantos dirão no fim de um relacionamento “Das lembranças que eu trago na vida / Você é a saudade que eu gosto de ter / Só assim sinto você bem perto de mim outra vez”? Pouquíssimos, eu acho.
Maria Mendes, aqui no Recanto, fez uma intertextualidade da letra da música em 28/03/2017. A partir do título, ela tece seus versos na profundidade de quem já tem consciência de que o pretérito imperfeito é o que define os sonhos.
“Deixe-me ir, não posso ficar
Não tente me impedir, preciso partir
Você foi o melhor dos meus sonhos”
O que era, já não é mais. A ação presente dos dois primeiros versos se faz necessária ante a certeza de que o sonho acabou: foi o melhor dos sonhos, já não é mais. Quantos de nós não vivemos momentos assim, em que nos descobrimos num malogro emocional?
Assim como “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” que Roberto Carlos fez para Caetano Veloso no exílio, “Aqueles olhos negros” que Ruiz fez para um motorista de táxi, e outras e outras músicas que nos tocam profundamente a partir da primeira audição cuja história desconhecemos, “Outra vez” foi composta para o irmão Milton Carlos que havia morrido de acidente de automóvel na via Anhaguera, em outubro de 1976. Para Isolda, muito ligada a ele, a música foi uma “Confidência sincera”, que mexe com as emoções até dos insensíveis.
Outra Vez
Isolda
Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim.
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.
Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder.
Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o pior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.