SEM TÍTULO 100 faces. (1)

“face 1”

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Ela provavelmente pensava que estava numa roda gigante em que as cadeiras fossem feitas de tachinhas e giletes enferrujados, e enquanto tudo rodava - e doía - ela não podia, não queria e nem sabia, como sair.

O hospício não é uma prisão, quero dizer... geralmente há meios de se poder sair; como a "cura" ou o fingimento. Não chega a ser mesmo como um presídio em que os presos, mesmo arrependidos (muitas vezes), não sairão, se quiserem... ou se as famílias assim quiserem, ou com verídicos ou falsos laudos e altas médicas.

Ela rodava, e rodava e rodava... em volta de um arbusto, que provavelmente era a coisa mais pura e bonita dali. Ela não dialogava, apenas soltava gemidos e semi-choros manipuladores, afim de tentar ganhar mais cigarros do que o permitido aos enfermeiros de plantão.

Caso ela passasse da conta, na chatice e no dengos - e isso era raro - seguravam-na pelos braços (era fácil, pois era uma criatura frágil, pequena) e aplicavam uma injeção em seu braço. Então, ela sumia por um dia inteiro, dormindo sem conseguir levantar, amarrada na cama e recebendo comida e bebida. Seus pais não podiam vê-la, só por um dia... talvez nem quisessem.

Era uma lebre que corria, ao ver um predador. Toda vez que tentavam falar com ela... se sentava sozinha, comida, fumava... rodopiava sozinha, a planta linda. Talvez ela não estivesse mesmo sozinha, quero dizer... ela não estava sozinha, nunca... mesmo rodando a planta. Estava? Talvez fosse a única coisa que ela quisesse e que lhe estivesse sendo negada. A solidão.