NA PALAVRA É QUE VOU... * A árvore
Na minha adolescência, sobressaía um companheiro pela irreverência: “eu sou bom aluno, aprendo logo à primeira”. Recordando-o agora, assalta-me esta dúvida: talvez eu seja retardado, daí que tivesse de esperar dezena e meia de anos para finalmente perceber que Fernando Pessoa estava errado quando escreveu “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Ou, sem me diminuir assim tanto, talvez eu tenha acreditado, enfrentando e afrontando as intempéries, que o tempo tudo conserta ou tudo concerta… vá lá eu saber!...
Decorridas dezena e meia de anos, verifico que o tempo nada consertou ou concertou. Agora, estarei onde o velho Sócrates “quis” que eu sempre estivesse quando proclamou “eu só sei que nada sei”.
Não me arrependo de ter dado tempo ao tempo… Só que eu não posso competir com o velho Cronos. Ele é perene, eu sou efémero. Ele aí está pujante, eu aqui estou gasto de anos e minguado de horizonte.
“Até ao lavar dos cestos é vindima”, diz a sabedoria popular neste meu chão de fome e de pão, de sede e de vinho, de mar e de voltar ou não. Ah, mas creio nos saberes ancestrais! E lavados os cestos que me couberam na labuta, dou por finda a minha participação na vindima.
A realidade de mim foi o que foi. Não posso voltar atrás para corrigir seja o que seja e não tenho motivo ponderável para protestar agora. Tenho ou suponho ter consciência dos meus limites. E é com a mesma inteireza com que ontem aceitei o desafio que decido hoje optar pela gruta do eremita, no deserto do meu recolhimento. Levo comigo as verdades de sempre, para meu conforto.
Ajudei a plantar a árvore… Benditos sejam os que se deliciarem comendo os saborosos frutos!
José-Augusto de Carvalho
4 de Março de 2019.
Alentejo * Portugal