A OBRA-PRIMA DO PERDÃO

Tenho certeza absoluta. O nosso mundo seria muito melhor se para ser perdoado ou conquistar o autoperdão, cada ser humano ao invés de balbuciar ajoelhado num confessionário, escrevesse ou criasse uma obra-prima.

Frederick Forsyth é um escritor inglês. Sua especialidade foi criar ficção sobre a Guerra Fria. A era dourada dos espiões. Quando a Guerra Fria teoricamente terminou a fonte de Forsyth foi secando. Seus livros que vieram depois, já não continham o mesmo fascínio eletrizante que faz os leitores “devorarem as páginas”.

Estranhamente sua obra-prima “O Dia do Chacal” foge da Guerra Fria. Narra a tentativa de assassinar Charles de Gaulle, que governou a França entre 1959 a 1969. Os detalhes da conspiração parecem tão verídicos, que Frederick Forsyth foi convidado a depor pelo serviço secreto francês. Nada a ver com o filme “ O Chacal” com Bruce Willis.

Podemos sentir a mesma veracidade em “A Rainha do Castelo do Ar”, o terceiro livro da série “Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres” do jornalista sueco Stieg Larsson. Além de jornalista, Larsson foi um dos mais influentes ativistas políticos da Suécia. Sofreu várias ameaças de morte da direita sueca. Morreu aos 54 anos de ataque cardíaco logo após entregar a trilogia aos editores.

Apesar de existir uma produção sueca, o filme “Os Homens que não Amavam as Mulheres”, fez mais sucesso com os protagonistas interpretados por Rooney Mara (Lisbeth Salander) e Daniel Craig, o atual 007 (Mikael Blomkvist).

A obra-prima de Larsson é justamente a rainha do castelo. Como Lisbeth Salander é filha de um espião russo que desertou para a Suécia, o livro narra uma conspiração entre todos os poderes podres suecos (governo, justiça e serviço secreto), para que Salander seja considerada doente mental e internada num hospital psiquiátrico.

Ao mesmo tempo, um outro tipo de conspiração encabeçada pelo jornalista Blomkvist se forma na tentativa de salvá-la. Enquanto a caça entre gatos e ratos se desenrola, Lisbeth passa a maior parte do tempo internada num hospital após levar um tiro na cabeça e ser enterrada viva. As duas coisas feitas por um meio irmão que ela desconhecia existir. O livro termina com Lisbeth livre buscando sua vingança.

Sei que aquele primeiro parágrafo desta crônica ficou parecendo estranho, e no contexto sem nenhum sentido até agora. Então vou explicar o motivo dele estar ali.

Sobre a série Millennium na Wikipédia lemos que o tema violência contra as mulheres na obra de Larsson deve-se ao fato de aos 15 anos ter testemunhado o estupro coletivo de uma garota. Larsson nunca se perdoou por não a ter ajudado. O nome dessa garota era Lisbeth. Se Larsson nunca se perdoou, foi perdoado por sua obra-prima.