AH, O NOSSO DER/MG! QUE PENA!
Aposentei-me em abril de 1994. Vez ou outra, retorno ao prédio do DER-MG, hoje DEER-MG *, para rever amigos ou para solucionar algum probleminha.
Em novembro do ano passado, fui ao Departamento para conversar com o grande amigo Arthur Carnevalli, dedicado servidor da antiga Diretoria de Pessoal, setor hoje cujo nome nem sei. Acho que Gerência de Recursos Humanos. Ele acabou, meio desgostoso com o andar da carruagem, se aposentando recentemente.
Atualmente a tal Gerência funciona no velho prédio do Departamento, de quatro andares, que antigamente tinha entrada pela Alameda Ezequiel Dias.
Quando cheguei ao primeiro andar, uma emoção muito forte tomou conta de mim. Meus olhos se encheram de lágrimas. Deu-me uma tristeza tão grande quando vi os corredores do primeiro andar totalmente vazios. Nenhuma vivalma. Em plenas 14 horas.
Imediatamente lembrei-me do dia 03 de agosto de 1966, quando iniciei minhas atividades no DEER-MG, na função de Contínuo, aos 16 anos de idade, já que tinha sido aprovado em concurso público. Passou um filme em minha cabeça. Ao ver a sala da antiga Zeladoria, à esquerda, logo no início, surgiu em minha imaginação a figura do saudoso Rui Ferreira, chefe do setor e meu primeiro chefe; vieram também à minha mente as figuras dos servidores: Atanásio, Teófilo, José Bento e vários outros companheiros, cujos nomes me fogem à memória neste momento. Em frente, também no início, olhei a porta fechada, à direita, onde funcionava o Serviço de Protocolo, local onde prestei serviços sob o comando do saudoso Jair Marques Penido, que se tornou um dos meus melhores amigos, no decorrer dos anos. Lá conheci pessoas extraordinárias, destacando-se o meu atual e amicíssimo Isidoro Afonso de Araújo Lima. O Jair Penido, que não está mais entre nós, foi nomeado, pela competência e dedicação, para o cargo de Diretor de Pessoal do Órgão.
Subi as escadas, à direita, devagarzinho, como se estivesse passando mal, segurando no corrimão metálico, meio brilhante, de cor dourada. Olhando para o lado esquerdo, logo no segundo andar, observo atento o local onde funcionava a Tesouraria. Lugar onde trabalhavam muitos de nossos companheiros, sendo que a maior parte deles já deixou este mundo. Bateu-me uma saudade grande de todos eles e lembrei-me também de um momento de muita alegria. Adivinhe: quando recebíamos o pagamento ou os vencimentos, em dinheiro vivo, “contadinho”, nas mãos, acompanhando de uma pequena tira que representava o contracheque. Só para não esquecer: como era menor de idade, recebia meio salário mínimo. Quando completei os dezoito anos, passei a receber 100% do salário mínimo.
Finalmente encontrei a sala do Arthur, onde funciona parte da Gerência de Recursos Humanos. Meio engasgado, disse ao amigo o quanto estava emocionado, deixando transparecer a ele minha tristeza de ver o nosso querido Departamento de Estradas de Rodagem, que era um órgão tão grande, respeitado e invejado por muitos, chegar ao ponto que chegou. Tão desprezado. Seus trabalhadores desiludidos. Salários defasados sem perspectivas promissoras. Os últimos governos estaduais desprestigiaram o nosso DEER-MG, um órgão que cuidava com carinho das estradas de Minas, mantendo-as bem conservadas. Além, é claro, de construir novas rodovias, com o trabalho exaustivo e competente de uma equipe de profissionais dedicados. São poucos os servidores remanescentes que conheço. A maioria já se aposentou, e alguns sumiram porque faleceram ou não voltaram mais ao prédio da Autarquia.
O nosso DEER-MG era o orgulho de seus servidores e de antigos governantes. Digo antigos porque governadores como Magalhães Pinto, Rondon Pacheco, Aureliano Chaves, Francelino Pereira tinham um verdadeiro amor pelo Departamento. Infelizmente, o DEER-MG foi sucateado pelos últimos governos. Eles terceirizaram quase todas as atividades que eram realizadas pelos servidores do órgão, diga-se de passagem, em quase ou mais de quarenta cidades mineiras. Hoje, há um numero reduzido de trabalhadores. As residências regionais, transformadas em Coordenadorias Regionais, encontram-se muito abandonadas, desprovidas de equipamentos para atender às demandas. Os trabalhadores que se aposentaram, na maioria, estão muito idosos e doentes. Enorme parte deles está sem quaisquer reajustes de seus proventos há mais de dez anos.
Em seguida, tive a oportunidade de parar e olhar reflexivo para o corredor do segundo andar, onde, também percebo ali um silêncio sepulcral. Depois de já ter me lembrado um pouco do movimento da antiga Tesouraria e dos servidores que ali prestavam serviço, eis que nova emoção aperta meu peito. Não vou nem falar do Serviço de Pessoal, da antiga Seção de Preparo de Pagamento, do Escritório da Divisão Administrativa-DAD, do Serviço de Cargos e Salários, do Serviço de Bem Estar Social etc. etc. Ah, não posso me esquecer das pessoas que deram sua vida pelo DEER-MG. Na DAD, o Dr. Orlando Santos Costa, que se tornou, mais no futuro, Diretor de Pessoal. Hoje mora em Araxá-MG; da Sala do Servidor, o Hugo Bouissou, que atendia a todos com a maior paciência. E mais pessoas tão distintas e trabalhadoras como o Dr. Aluísio Guedes, a Dona Beatriz, a Marcy Couto, o Luiz Mafra, o José Faria Soares, Gláucia Lommez etc. etc.
Logo depois, parei um pouco ainda circunspecto. Não quis seguir em frente para não me lembrar de mais nada e de mais ninguém. Meu coração estava miudinho e retraído.
Após tantas lembranças, dividi minha tristeza e emoção com o amigo Arthur Carnevalli, que, com dedicação e carinho, na área de recursos humanos, cumpria seus últimos dias de trabalho antes de se aposentar.
BH, março de 2019.
* Observação: Em 13 de janeiro de 2020, a sigla do DEER-MG voltou a ser DER-MG. Lei 23 553.