Um amor de avião

Julho. 2018.

Estava eu embarcando em uma grande aventura: um intercâmbio de 3 meses na Flórida. Estava ansiosa como qualquer pessoa prestes a embarcar no avião. O voo estava atrasado e eu estava p(u)ta por saber que minha ansiedade demoraria um pouco mais para passar.

Após duas horas de atraso, finalmente chegou o grande momento: o embarque. Como a viagem não tinha saído assim tão barata (havia pagado tudo com aulas e traduções que fiz durante o ano), não consegui o melhor assento dentro do avião, mas tudo bem; afinal, ele me levaria para o mesmo lugar que as outras pessoas. Eu, com uma legging preta, tênis, um blusão e os fios presos, ao chegar no meu lugar para sentar, me deparo com o menino mais lindo de todas as galáxias, que ainda por cima me acompanharia por aquelas longas horas. Era um sonho! Mas eu estava enganada: foi rude o suficiente para dizer somente um "hi" de canto de olho. A peste ainda não era brasileiro! Mas era de se esperar, pois a fisionomia o condenava à outra cidadania. Era branco, daqueles bem brancos, olhos azuis, daqueles bem azuis, e tinha cabelos e barbas loiras. Era lindo! Infelizmente!

Depois de me assentar e me sentir confortável o suficiente, abri o livro que trazia comigo, "Minha História - Michelle Obama", para ocupar a mente naquelas horas chatas dentro do avião.

Horas se passaram - eu diria 2 ou 3 - e anoiteceu. Eu adormeci igual a um recém-nascido, afinal não tinha pregado os olhos na noite anterior. Acordei quando anunciavam que era necessário colocarmos o cinto de segurança, quando notei que uma coisa estranha estava acontecendo: aquela "mula" de cabelos loiros estava deitado no meu ombro. Fiz questão de balançar o braço bem forte para que ele acordasse! Ele abriu os olhos e a única coisa que foi capaz de dizer foi um simples "sorry". Não disse nada também! Fiz questão de mostrar que estava brava quando, ao colocar o cinto, virei para o lado para dormir.

Alguns minutos finalmente se passaram quando eu sinto algo pesado encostar nas minhas costas. Era ele. De novo! Acordei-o de novo e, ao invés de ser grossa, perguntei se queria encostar no meu ombro para dormir. É aquele ditado: "se não pode contra eles, lute com eles". Acho que é assim! E o homem era lindo. Eu não perderia essa oportunidade!

Ele logo agradeceu e encostou no meu ombro. Foi confortável: pr'a mim e p'ra ele.

O nosso toque despertou algo tão profundo que, quando acordei, estávamos de mãos dadas. E ele, desperto. Logo disse que não queria me acordar, por isso não tinha tirado a mão. Mentiroso! A verdade é que, durante o resto de toda a viagem, trocamos carinhos e abraços, além de boas gargalhadas com histórias de nossas vidas. Ou talvez ele só estava rindo do meu inglês mesmo! Aquele homem era um sonho e totalmente diferente da primeira visão que construí na minha cabeça: era educadíssimo e carinhoso; e canadense. Estava no Brasil visitando o pai que trabalhava em uma grande empresa em São Paulo.

O dia amanheceu e o avião estava pousando. Todo mundo que já andou, sabe a correria que é no momento do pouso para pegar as malas de mão. Muita gente feliz e crianças chorando! Ele logo se levantou e correu para pegar sua mala. Eu não fiz diferente! Estava ansiosa para começar aquela grande experiência! Logo as pessoas começaram a sair, e ele, acompanhando-as, apressou o passo. Só foi capaz de olhar para trás e dizer "Thank you!" antes de entrar naquela represa de pessoas.

Hoje, dia 03 de março de 2019, vasculhando as fotos do intercâmbio, acho a única foto que consegui tirar escondido enquanto ele dormia. Não sei seu nome e muito pouco a sua história. As lembranças ficarão para sempre na minha cabeça!

À você, loiro desconhecido, o meu sincero agradecimento! Espero poder lembrar, para sempre, do seu cheiro e da sua voz. Você foi incrível!