Felicidade Urgente
Uma amiga que não via há anos ontem me deu um abraço. Engraçado que seria algo muito comum se não fosse o desfecho. Era um abraço apertado, uma espécie de prisão sufocante da qual tentava me soltar para olhá-la nos olhos e ela não permitia.
(Das vezes que me senti assim sabia, era o tempo necessário para engolir o choro e prender os sentimentos na gaiola da avaliação social.)
Quando enfim me olhou, perguntou-me apressadamente: como você está? E continuou falando sem parar e sem sequer permitir escutar as respostas que tinha. Até que cortei: por que está tão agitada? Tenha calma. Respira fundo. Vamos encostar ali pra conversar.
Ela foi como se estivesse indo prum abate (tipo animal) passos desacelerados e cabeça baixa.
Perguntei como estava e ela disse: bem! Insisti: bem mesmo? E ela respondeu: tem que ficar não é? A vida exige. Pra ser sincera me sinto péssima, mas minha família e namorado não admitem que me sinta assim. Dizem que tenho uma vida que muitos sonham e que devia ser grata.
Confesso que engoli seco e na esperança de vê-la aproveitar a oportunidade para se soltar, disse: Da onde foi que tiraram está ideia falsa de que somos felizes o tempo todo não é? Tão invasivo. É preciso viver também a tristeza, a desilusão, a angústia, a dor é o luto. Você não pode ser triste o tempo todo, mas pode e deve se sentir triste, vazio, até para conseguir se encontrar no meio desta sociedade engessada na qual todos querem as mesmas coisas, e geralmente são de ordem material.
Ela sorriu com os olhos abarrotados de lágrimas e como quem tivesse encontrado um tesouro afirmou perguntando: você me entende?
-Não só entendo como vivo todos estes sentimentos Já segurei pessoas num abraço para evitar que vissem meus olhos se encherem de lágrimas, já sabotei minha felicidade articulando desejo alheio, já sofri calada e já segurei os móveis de uma casa inteira nas costas e desabei apenas com uma carteira. Somos humanas. E devemos aceitar quem somos e compreender o que se passa em nosso interior. É por essas e outras que vivemos a época das pessoas sozinhas num universo tão habitado. Vamos sentar um pouco ali naquela lanchonete, não é por acaso que nos encontramos...
Decidi dividir com vocês este diálogo por saber que a ditadura da felicidade é uma doença social coletiva que robotiza as pessoas a ponto de só conseguirem lidar com suas realidades se tiverem ajuda prescritiva medicamentosa.
Precisamos eliminar esta ideia falsa de felicidade urgente propagada pelas redes sociais e ajudar as pessoas a ter coragem de se assumir como são. Inclusive, aprender a lidar com as perdas e experimentar o luto, independente de morte física ou psíquica. Há muita dor nas interpretações... Num momento a casa cai e... Tarde demais!
Uma amiga que não via há anos ontem me deu um abraço. Engraçado que seria algo muito comum se não fosse o desfecho. Era um abraço apertado, uma espécie de prisão sufocante da qual tentava me soltar para olhá-la nos olhos e ela não permitia.
(Das vezes que me senti assim sabia, era o tempo necessário para engolir o choro e prender os sentimentos na gaiola da avaliação social.)
Quando enfim me olhou, perguntou-me apressadamente: como você está? E continuou falando sem parar e sem sequer permitir escutar as respostas que tinha. Até que cortei: por que está tão agitada? Tenha calma. Respira fundo. Vamos encostar ali pra conversar.
Ela foi como se estivesse indo prum abate (tipo animal) passos desacelerados e cabeça baixa.
Perguntei como estava e ela disse: bem! Insisti: bem mesmo? E ela respondeu: tem que ficar não é? A vida exige. Pra ser sincera me sinto péssima, mas minha família e namorado não admitem que me sinta assim. Dizem que tenho uma vida que muitos sonham e que devia ser grata.
Confesso que engoli seco e na esperança de vê-la aproveitar a oportunidade para se soltar, disse: Da onde foi que tiraram está ideia falsa de que somos felizes o tempo todo não é? Tão invasivo. É preciso viver também a tristeza, a desilusão, a angústia, a dor é o luto. Você não pode ser triste o tempo todo, mas pode e deve se sentir triste, vazio, até para conseguir se encontrar no meio desta sociedade engessada na qual todos querem as mesmas coisas, e geralmente são de ordem material.
Ela sorriu com os olhos abarrotados de lágrimas e como quem tivesse encontrado um tesouro afirmou perguntando: você me entende?
-Não só entendo como vivo todos estes sentimentos Já segurei pessoas num abraço para evitar que vissem meus olhos se encherem de lágrimas, já sabotei minha felicidade articulando desejo alheio, já sofri calada e já segurei os móveis de uma casa inteira nas costas e desabei apenas com uma carteira. Somos humanas. E devemos aceitar quem somos e compreender o que se passa em nosso interior. É por essas e outras que vivemos a época das pessoas sozinhas num universo tão habitado. Vamos sentar um pouco ali naquela lanchonete, não é por acaso que nos encontramos...
Decidi dividir com vocês este diálogo por saber que a ditadura da felicidade é uma doença social coletiva que robotiza as pessoas a ponto de só conseguirem lidar com suas realidades se tiverem ajuda prescritiva medicamentosa.
Precisamos eliminar esta ideia falsa de felicidade urgente propagada pelas redes sociais e ajudar as pessoas a ter coragem de se assumir como são. Inclusive, aprender a lidar com as perdas e experimentar o luto, independente de morte física ou psíquica. Há muita dor nas interpretações... Num momento a casa cai e... Tarde demais!