MINHA BAIANIDADE NAGÔ

Dos meus sessenta e três anos de baianidade nagô e consumidor de acarajé nunca ouvi alguma baiana perguntar se queria o acarajé "quente ou frio", em referência à pimenta. Isso é folclore. Mas em Salvador existe uma linguagem tribal que só os baianos entendem. Muito tempo fora, me passei num boteco do Mercado das Sete Portas, que fica no bairro de mesmo nome:

- Dió, que é que tem de tira-gosto aí?

- Tem mocotó de currute.

- Desculpe, não me lembro mais o que é isso.

- É que ainda não está cozido, mas dá pra comer.

De baiano pra baiano na mesa vizinha:

- Colé di mermo!

- Di nenhuma!

- Tu tá mais fatiotado que penteadeira de puta!

- É que vou jogar as cajás numa piriguete.

Na casa da minha irmã, meu cunhado explica porque não consegue colocar um quadro na parede:

- A coisa não coisa porque a coisa não quer coisar.

O meu sobrinho conversando com um amigo:

- Ô, porra, como é que foi a porra?

- A porra foi da porra, porra!

- Mas que porra! Perdi a porra!

E assim a vida prossegue na soterópolis ao som dos acordes de Momo que reina o ano inteiro. Evoé!

Tom Torres
Enviado por Tom Torres em 02/03/2019
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