O campo dos girassóis

Girassol não é minha flor preferida, mas aprecio sua simplicidade e charme. A sua cor e formato já nos remete ao formato do Sol e a cor amarela também, afinal, desde pequenos somos ensinados a pintar o Sol usando o lápis amarelo. De detalhe em detalhe a gente vai percebendo que o Sol parece estar, de certa forma, marcado pela lembrança de um girassol. Essa flor, tão simples e frágil, tem que receber a luz do Sol e gira para os lados conforme essa luz dança no céu e conforme as horas do relógio avançam, fazendo com que a luz seja mais forte ou fraca, mas que ainda permanece iluminando o campo do girassol.

Mas não quero descrever ou escrever filosofias sobre o girassol e sua semelhança com o Sol. Quero na verdade contar sobre um episódio interessante que me ocorreu em certa tarde de altas temperaturas e de um Sol capaz de rachar a cabeça. Sempre tive muita vontade de conhecer campo de girassol e isso era bem possível de acontecer onde moro. Bastavam apenas dinheiro no bolso e agendamento com empresas que pronto: a visita aos campos de girassóis poderia acontecer cedo ou no final da tarde.

Mas, perdi o tempo de visitar os campos e tive que me contentar em ver fotos de outras pessoas que conseguiriam achar tempo, dinheiro e chance de conhecer um girassol bem de perto, plantado no chão, regado pela chuva e repleto da capacidade de arrancar um sorriso e uma admiração até dos corações mais rudes. Restou apenas a mesma vontade de um sonho que não se realizava e um desejo que permanecia adormecido no coração. Desejo esse de um dia poder visitar um campo cheio de flores amarelas e repleto de muita vontade de poder ver bem de perto uma flor cheia de abelhas e bem amarela, a mesma que representa a ousadia de permanecer esperando o Sol, esperando a luz.

Mas penso comigo mesma: e quem não pode pagar pela visita a um campo de girassol? E quem não pode conhecer de perto uma flor tão linda? Cobram pelo vaso e cobram pela visita, mas ninguém pergunta se você deseja visitar um campo de graça, se deseja ver a flor enquanto anda de carro e sem querer tem a sorte de tropeçar com a coincidência de visitar a plantação.

É cheio de vontade que muitos dormem sem poder arcar com a chance de ter um romance ou alguém que as leve ao campo repleto de girassol e é ainda a desigualdade que te mostra que não vai ser você a pessoa sortuda a tirar fotos perto de grandes girassóis de graça. Acabei por me conformar que talvez me restaria a ingenuidade de não conseguir conhecer o campo da mesma forma de quem pode pagar pela visita ao campo do girassol.

Alguns, como eu, permanecem sonhando em ter a mesma chance de conhecer essa flor que de tão simples consegue ser linda e de tão grande consegue ser cheia de graça. Acabei, certa tarde, tendo a mesma sorte de conhecer a flor e ter, finalmente, a chance de ficar maravilhada. Foi virando a esquina que logo lá estavam milhares de girassóis plantados e bem amarelos. Do lado da minha casa haviam milhares de girassóis e bastou apenas eu virar uma esquina que nunca considerei como sendo importante, para estar frente a frente com um dos sonhos que sempre tive, mas que, infelizmente, nunca se realizou. E foi apenas virando a esquina que o meu sorriso apareceu mais forte do que a luz do Sol daquele dia e lá estava eu vendo milhares de girassóis e abelhas.

Descobri duas grandes verdades nesse mesmo dia. Uma delas é o fato de que virando uma esquina que pode ser a menos provável de nos levar ao caminho certo que faz a gente conhecer imensos campos de girassol. É virando uma esquina que a luz do sorriso ilumina o caminho. Outra verdade que descobri com aquele mesmo campo de girassol é que, apesar de muitos cobrarem e pedirem de você o impossível para realização de algum sonho, todas essas mesmas pessoas se esquecem de que quem criou os girassóis não trabalha com dinheiro e nem com a exploração do bolso do trabalhador humilde.

Quem criou o girassol e a chance de se maravilhar com eles não deixa de plantar eles nos campos desconhecidos e em esquinas esquecidas por nós, mas, ainda assim, esquinas cheias de esperança e espaço para realização de sonhos.

Foi virando a esquina e vendo aquele campo de girassol que eu percebi que estava diante de uma chance de entender sobre a vida em geral e isso não foi nenhum livro, concurso ou filósofo que me ensinou, mas sim o campo de girassóis.

Palavras de Verona
Enviado por Palavras de Verona em 28/02/2019
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