MEDO E DEPRESSÃO.

A própria vida e seu medo de perdê-la traz o temor patológico que leva à depressão. Uma instabilidade emocional se abate e desestabiliza a vida por um tempo ou as vezes por toda uma vida. Não se vence o tempo, o tempo de vida. O tempo é implacável e sempre vencedor. Marca sua estada respirando.

O tempo só não acaba para o próprio tempo, só ele é testemunha de si mesmo. Só ele sabe quais as modificações que existiram no mundo e no universo, no cosmos. COMO SURGIU A VIDA!

Assiste soberano a tudo que os limitados homens não explicam. Tivesse seu livro escrito, tudo estaria lá, assentado sem caminhar na dúvida. É única testemunha presencial.

De nada adianta a física e a antropologia fazerem as costumeiras digressões, e mudarem afirmativas, e progredirem. Avançam pouco ou quase nada. Não se erradicam doenças por ninguém saber em digressão maior como se inicia vida. Uma das doenças que mais mata é a multiplicação da vida até à exacerbação tumoral, multiplicação desordenada da vida, multiplicação celular.Como saber por qual razão se extingue a vida sem saber como começou, a não ser os velhos gametas, e por aí se para. A velha causa e efeito que rege o planeta. Ora, mutação da natureza, e só.

Progrediram sim, as ciências curativas e preventivas. E é bom repetir quanto se deve a Salk e Sabin, quantas vidas deixaram de ter “paralisia infantil”, exércitos de infantes. E a Alexander Fleming, inventor da penicilina. Meus pais perderam o primeiro filho de dois anos, irmão que não conheci, de pneumonia. Matou bastante a vida deles.

Reverência ilimitada é pouco para estes “anjos das crianças” e das vidas libertas em movimento. Outras causas de paralisia acometem as crianças que vemos nas ruas, sofridas e sofrendo com seus pais.

Não se escapa do tempo e da indústria do medo. Das fobias que não são poucas, tantas que são impossíveis de listar, englobadas no medo em geral. E o grande medo das perdas é do maior bem, a vida, própria e de entes queridos. É o medo hierárquico no ápice de todos os medos. Compreende-se. É o maior valor e dele decorrem os outros, todos.

Por isso poucos entendem a razão de se buscar A VIDA ETERNA, sob promessas religiosas ou convencimentos pessoais exclusivos. Como dizia o poeta romano Lucrécio, deuses e credos foram criados pelo medo da morte. Acrescentaria, e às convicções pessoais singulares.

Só uma ascese verdadeira e despojada pode entender esses segredos que se volatilizam no cosmos. É uma construção de fé e razão, ou das duas. Ser quase um Chamã, pelo menos tentar ser. Pela razão muitos ficam indiferentes a esse medo, despojados dos valores materiais da vida renunciando a seus prazeres, como os monges voltados exclusivamente para o lado espiritual. Mas os prazeres da vida são valiosos, e não precisa ser um monástico eremita para perceber, descerrar outros espaços.

Conheço alguns com medo, presos em suas casas faz mais de trinta anos. Nada resolveu o medo patológico, nem ansiolíticos, nem terapia psíquica, nem derivativos que se tornam vícios como o álcool e levam a outras doenças. O tempo e a instabilidade emocional são os vencedores.

Depressão profunda imensurável cerca e envolve esses personagens sofridos, cerram portas e janelas. Casas fechadas, criam-se masmorras, é visível o medo dentro e fora desses cárceres criados pelos próprios encarcerados. Alguns opiniosos não admitem a doença. Modernamente a doença por medo, que por vezes nasce com o doente (fragilidade originária biológica e psíquica) é chamada de "pânico" por causas externas concorrentes. Leva também à bipolaridade antes conhecida como doença maníaca/depressiva, hoje bipolar, os picos das manias (perseguição, riqueza, liberdade sexual sem medidas, entre outras), seguidos da depressão. O lítio controlou esses estados surtados, hoje melhores químicas são receitadas.

Vivem os depressivos uma vida de ficção, doente, e por compensação incorporam na imaginação atividades que nunca tiveram, passeiam por vontades irrealizadas que tornam reais.

A vida é mar revolto de dificuldades que as emoções enfrentam timidamente. Falta força, determinação e coragem para vencer as barreiras. É preciso aparelhamento para viver.E viver dá trabalho, é necessário ser forte.

E o medo, paradoxalmente, impede a vida, o mesmo sentido do objeto de proteção, a vida que se quer proteger, se extingue. O que se protege está comprometido. Já não se vive! O paradoxo é gritante e a contrariedade clara. Já não se vive por medo, a vida que se quer preservar não é vivida. Atentem para essa equação irrespondível. A doença toma conta.

Perdendo a noção de realidade, vive-se a irrealidade, uma dureza para a vida que se quis proteger e não se vive, se arrasta entre ficção e sonho irrealizável, é triste. Sofre-se. Mas nada se pode fazer, é maior que a vontade essa força, entende-se. A doença não pede licença nem tem alvo, instala-se.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/02/2019
Reeditado em 09/07/2019
Código do texto: T6585338
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