Uma confusa retórica com Deus no meio

Deus não existe para um número considerável de pessoas e por isso a democracia republicana se esforçou por libertar os homens dos jugos religiosos nesta geografia no qual Américo Vespúcio deu o nome de América. Nós somos a América laica. Colombo com Deus ou sem ele nunca ficou sabendo de seu próprio destino como ocorre com os homens que crêem ou não creem. Insisto que a essência da nova humanidade na qual se deu o nome de Novo Mundo baseia-se no pleno direito de optar pela sua própria crença ou descrença.

As Novas Repúblicas deste país perderam o fôlego da liberdade no consumismo desenfreado da matéria vendida para ser transformada em lixo. Manufatura bem a alma para lograr êxito na devastação real da natureza humana. Fabrica miséria para ostentar existências rebrilhantes muito afinadas com a vontade divina. Dados a fachada absolutista da república mal conformada, aquela que se embaraça novamente em confusas ordens de viés espiritual.

Na verdade temos o mesmo fundo religioso de sempre num ambiente que promete paz, mas agita a alma em cegueiras hostis tendo qualquer religião o afã maior que é dominar tudo e todos. Mais vezes aquele que não crê, sano e laico, possui humanidade pura em sua livre alma. Alma sem templos das multidões volatizadas. Este é muitas vezes o laico. Mais amplo em seu hedonismo lírico, pois vai despertando suas ilusões na paisagem lúcida da realidade sem nenhuma certeza fundamentada no infinito.

Brasileiros! A pátria não pertence a nenhuma religião, ó senhores do poder! O poder político que hoje está no poder se inaugura eximindo a importância política da "história dos trabalhadores do passado" como um nada. Uma sequela entre direita e esquerda. Recai no pior erro que é agregar em si a nova dimensão insólita. Discurso frágil para uma sociedade empobrecida pelos excessos da abundância tomada do suor do trabalho explorado.

Ser laico é honrar mais do que uma divindade. É dialogar com o infinito junto aquele que examinou a mesma curiosidade e nada descobriu exceto o desenho da fina flor da imaginação. O homem laico deseja fugir desse grande zelo empregado pelas religiões e que se resume em tentar dominar para si todos os homens da terra.

Temos diante de nós um tempo de Brasil retrógrado, desejando que alunos profiram frases de campanha eleitoral. Toquem perigosos tambores, entoando hinos, louvores... Acaso César não sofreu um fim trágico por se divinizar mais do que devia aos deuses?

Ó excelentíssimo Ministro da Educação, há alunos que chegam à escola cientes da filosofia ser mais útil do que a religião, são laicos, não creem em Deus, nem por isso merecem repetir frases de ordem de seu partido político hoje no poder. Poder que se estabeleceu infelizmente sempre diante da triste instrução nacional. Com aquela ingenuidade compreensível diante da fome e do desespero - onde deveria haver administração pública social de valor qualitativo.

Quase sempre estes ornamentos espirituais empregados na retórica nascem recheados da ideia de que fundamentam algo novíssimo sobre a terra, mas apenas se bastam como repetição degenerada do passado. Pelo beneplácito do voto pensam que estão destruindo a história já marcada com fúria e medo pelas religiões (olhai o passado histórico!) Acreditam na reinvenção da realidade entre acenos ancestrais do místico oriente. Mas o que se ressuscita do original é sempre uma péssima cópia de messianismo rústico como diria o Autor de Os Sertões. Pobre Novo Mundo que se debate vazio e se capitaneia pela caducidade da tradição.

Senhor Presidente, Senhor Ministro, Deus não é para todos. Zeus também não foi para todos. Mas sem a corrupção, como diria Marco Aurélio, o que é da abelha é da colmeia.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 26/02/2019
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