Beija-flores e carnaval


     1. Nada a ver com a "Beija-flor de Nilópolis". Apresento-lhes, senhores e senhoras, beija-flores baianos que dançam por aqui, seja ou não carnaval.
     Eles aparecem de surpresa nas janelas das celas do Convento de São Francisco, cá, em São Salvador da Bahia. E como dançarinos ariscos, dão, de graça, inesquecíveis shows. Eu vi. 
     2. Usam as janelas do convento como palco. Mas, em nenhum momento, quebram o silêncio do claustro  e a paz da clausura do centenário monastério seráfico da Bahia. Dançam durante minutos e, de repente, se escondem no jardim do convento.
     3. Com seus bicos finos e afiados, longos e pontiagudos, eles beijam, aparentemente com ternura, as flores que os frades botam nas janelas do convento, mal o sol doura a cumeeira do casario do Centro Histórico de Salvador.
     4. É assim quase todos os dias, me disse Frei Arnaldo Mota e Sá, um franciscano afável e alegre, morando, há décadas, no centenário convento dos frades menores, do qual, foi guardião, por duas vezes, com brilhante desempenho. 
     5. Sempre que vou ao Centro Histórico de Salvador, dou uma passadinha no Pelourinho e faço uma demorada visita ao Frei Arnaldo, meu amigo, desde os anos 1950; fomos colegas no mesmo seminário. 
     6. Na sua modesta cela fradesca, encontro-me com o silêncio que falta a Salvador, mormente agora, pois, já é carnaval na Bahia.
     Arranjaram um esquisito verbo -  carnavalizar - para anunciar que a capital baiana mergulhou, irremediavelmente, na folia momesca. Antônio Houaiss teria dificuldade para explicar esse exótico "neologismo". 
     7. PALMAS para os beija-flores do Convento de São Francisco, esse belo templo salvadorense, na Bahia, desde 1700 e tanto..
     8. O carnaval de Salvador.  - Do carnaval de Salvador, fujo; fujo, como, da cruz, foge o diabo.      Vou repetir: não tenho mais saco para ouvir as "músicas" chulas que desfiguram, descaracterizam a folia momesca dos baianos. Pioram a cada ano. 
     9. Vou repetir: não tenho mais saco para ver os "cantores" e as "cantoras" cantando "musiquinhas" que, de carnavalescas, nada têm.      Os incômodos trios elétricos são passarelas por onde desfilam bundas e músculos. 
     Vou perguntar: Cadê os pierrôs, os arlequins e as colombinas? Cadê as marchinhas que endoidavam os foliões, mas deixavam saudades?
     10. Como disse, fujo do carná baiano. Este ano, me refugio, com Ivone, num convento franciscano, na serra da Borborema, perto de Campina Grande, Paraíba. No seminário, construído ao lado do convento, estudei três anos, na década de 50.
     11. Volto aos beija-flores,  encaminhado-me para pôr o ponto final.
     Flávio José, aplaudido sanfoneiro cearense, tem uma canção que fala com carinho nesses pássaros dançarinos. 
     Pede, ao som de sua sanfona dengosa, que um beija-flor leve uma mensagem apaixonada ao seu grande amor. É a canção "Mensageiro Beija-flor". Ouçam; vale a pena.
     12. Aos beija-flores, pouco tenho a pedir, nesta altura de minha vida... Talvez, que eles, "passarinhos mensageiros" , tragam aos meus ouvidos uma das muitas histórias que vivi, em outros carnavais, nos braços doces de uma colombina... Prometo lhes dar flores fresquinhas e cheirosas...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 26/02/2019
Reeditado em 10/12/2020
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