Sussurro

S U S S U R R O

Ela chega de mansinho, bem devagar sem fazer nenhum barulho, enroscando-se no tempo como gata manhosa. Fala baixinho para não despertar curiosidade, para não derramar a seiva de vida.

Seus traços rasgados pelo cinzel nas mãos de Deus confere uma beleza exótica, uma tez de marfim, lábios sinceros, coração palpitante e cheio de alegria contida.

Ela sussurra para não pipocar bolhas de inveja, de cobiça, de desejos inescrupulosos. Ela sussurra porque é de sua natureza contida, de seu caráter atencioso, de seus amores não declarados, de suas paixões governadas pelo bom senso.

Ela é um passarinho que entrou na minha vida para cantar no meu ouvido sua canção de paz, de harmonia e serenidade. Seu sorriso meigo me faz ver diante de mim o meu anjo da guarda protegendo minha velhice cansada, calejada e distante de meus familiares que já se foram.

Ela consegue rir com os lábios e os olhos ao mesmo tempo. Ela é frágil como uma flor de lis com toda sua majestade heráldica. É ao mesmo tempo emotiva, sensível e delicada como a membrana que separa a vida da morte, precisando apenas de um grácil toque para ver-se rompida. Carrega em seu âmago um turbilhão de emoções, de vida em erupção, de asas para alçar voos longínquos.

Ela é Milena, de COSTA larga para suportar os solavancos do tempo, para padecer as tempestades que cabe a cada um. Ela é MILENA COSTA ANTUNES, minha netinha que veio de longe trazendo alegria para um velho viciado pela vida, pelos embates, um ancião de couro grosso e escurecido pelo efeito do sol inclemente. Ela veio me conferir jovialidade, como se novamente eu estivesse púbere. Ela veio me relembrar como sorrir com as coisas simples, com a palavra não dita, com o gesto incompleto. Obrigado, meu amor, por estar estes dias conosco, participando de nosso dia a dia, dirimindo nossas duvidas inerentes a sermos felizes, a sermos plenos e imperfeitos ao mesmo tempo. Se não nos aceitamos, quem vai nos aceitar. Você é a nuvem branca e diáfana que paira neste momento sobre nosso agreste sofrido de seca, seco de chuva, árido de sofrimento, feliz por existir.

Você é linda por dentro e por fora. Agradeço a Deus por ter você como mais uma netinha a quem posso amar muito até o final de meus dias.

Anchieta Antunes

Janeiro de 2011.

Gravatá – PE.