ALZHEIMER!

Há muito tempo venho tentando escrever poemas e não consigo. Dificilmente passo do primeiro verso. Às vezes, penso em algo e ao decidir por fazer, esqueço o que havia pensado.

Na última Bienal do Livro, em São Paulo, perdi a chave do meu carro. Ainda bem que havia ido, de carona, com o meu bom amigo, o Prof. Norberto. Devo tê-la colocado em algum lugar e, sem nenhum registro cerebral, não posso lembrar onde a esqueci. Só sei que, tenho esquecido várias coisas, em casas de amigos, em bares, repartições, coletivos. Isso, como disse no início já vem de muito tempo... Vejamos:
Um dia, ao chegar em casa, ouvi um som diferente vindo do refrigerador. Parecia algo, como se fosse o tilintar de um telefone. E era! Na noite anterior, ao ir dormir, simplesmente fiz a estranha troca: coloquei meu telefone sem fio na geladeira, no lugar do doce de leite que estava comendo, que foi parar em cima do criado-mudo, que por ser mudo não me alertou em nada. Só sei que minha geladeira, além do telefone, de vez em quando, abrigava dicionários, livros, cadernos de anotações, discos e até canetas. Era mais que uma biblioteca, era uma livraria inteira! Mas, isso foi a muito tempo, várias décadas atrás.

Atualmente, com esses novos acontecimentos ou esquecimentos, meus amigos estão preocupados comigo e, um deles, uma pessoa que tenho na mais alta consideração e vice-versa, enviou-me um e-mail com um quebra-cabeça, dizendo que se eu conseguisse montá-lo seria sinal de que estaria livre do alemão. Pois bem, consegui resolver o quebra-cabeça num tempo inferior a três minutos, sendo que se falavam num mínimo de cinco. E daí?

Eu sei que, só no Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. Seis por cento delas sofrem do Mal de Alzheimer, segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ). Em todo o mundo, 15 milhões de pessoas têm Alzheimer, doença incurável acompanhada de graves transtornos às vítimas. Nos Estados Unidos, é a quarta causa de morte de idosos entre 75 e 80 anos. Perde apenas para infarto, derrame e câncer.
O Mal de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca o declínio das funções intelectuais, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social e interferindo no comportamento e na personalidade. De início, o paciente começa a perder sua memória mais recente. Pode até lembrar com precisão acontecimentos de anos atrás, mas esquecer que acabou de realizar uma refeição. Com a evolução do quadro, a doença causa grande impacto no cotidiano da pessoa e afeta a capacidade de aprendizado, atenção, orientação, compreensão e linguagem. A pessoa fica cada vez mais dependente da ajuda dos outros, até mesmo para rotinas básicas, como a higiene pessoal e a alimentação.

No ano passado, com a queda que levei, fraturei braço, cotovelo e antebraço. Pior, pois sendo canhoto, tive que, por muito tempo, utilizar da mão direita para todas as atividades. Isso, não obstante as dificuldades, foi muito bom porque desenvolvi o outro lado do cérebro.

É sabido que o cérebro tem duas metades, que são virtualmente imagens de espelho, uma da outra, mas que têm funções diferentes.
O lado esquerdo do cérebro controla a função da fala, a lógica e a razão, é a parte científica de cada ser humano.
O lado direito do cérebro reconhece formas, padrões e sons, é a parte artística de cada ser humano que aparece em momentos de inspiração.

 
Os pensamentos são eventos eletromagnéticos de muita curta duração que acontecem no sistema neurológico. Toda imagem afeta o cérebro produzindo mudanças no sistema nervoso e em sua química influenciando a maneira em que se sente. As emoções afetam diretamente os sistemas musculares, hormonais, o estado físico, as decisões, as ações, os pensamentos e comportamentos. A linguagem que utiliza imagens metafóricas para guiar uma corrente de pensamento, é chamada ideográfica - ilustrações muito simples e abstratas que permitem transmitir instantaneamente muitas coisas de uma vez, é captada pelo lado direito do cérebro, transmitindo um significado comum junto com todas as ideias conectadas a ele; transmitindo tudo que significa o objeto, como se tivesse ensinado o que representa, para que serve, quem o fez e como se utiliza.  Essa forma de comunicação por imagens e não por palavras, é a base da telepatia (faculdade do lado direito do cérebro).

 
A palavra é uma coleção de letras e sílabas captada pelo lado esquerdo do cérebro, baseada na linguagem humana ao invés de desenhos de objetos, expressando um só conceito congelado; sendo uma forma mais estreita de consciência. A escritura de sílabas que se supõem tenha sido um dos avanços mais importantes da história do homem, apareceu quando abandonaram um sistema baseado no lado direito do cérebro. 


A Torre de Babel representou a perda da comunicação através das imagens, um acontecimento que atrasou o desenvolvimento da consciência do homem. 
A maneira baseada no lado direito do cérebro, combinada com a maneira atual racional, baseada no lado esquerdo do cérebro, levará o homem a um novo lugar: o uso simultâneo dos dois hemisférios, acelerando o desenvolvimento de sua consciência. Esse foi o caso dos Maias.
Esta linguagem conduz o homem a um estado simultâneo de razão e intuição (solar e lunar; masculino e feminino). 
Uma civilização que se comunica dessa maneira consegue mais facilmente alcançar níveis de frequências mentais aceleradas, produzindo uma visão integrada de toda realidade.
 

Consciente dessas verdades, durante todo o tempo que estava convalescendo, pratiquei muitas atividades e continuo a praticá-las, principalmente aquelas que se destinam ao lado esquerdo do cérebro. Também, como de costume, leio muito antes de dormir e não durmo sem fazer as minhas palavras cruzadas.

Aqui em Vinhedo, tenho muito contato com pessoas de outros países, principalmente da Alemanha.  Tenho uma amiga, que há muito mora neste país e que, de tempos em tempos renova seu convite para que vá visitá-la e assim conhecer a nação germânica.  Nem sei mais se irei mas, espero que assim, por intuição ou paradoxo, sendo amigo de gente bávara, o Alzheimer fique longe de mim.


Vinhedo, Inverno de 2012.
 
Benevides Garcia
Enviado por Benevides Garcia em 25/02/2019
Código do texto: T6584048
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