Reunião de Amigas
REUNIÃO DE AMIGAS
Bolos, doces e muitos salgadinhos, porque somente doces, engorda muito, e todas estão em eterna dieta.
_Engordar faz mal, amiga! Tenho que me cuidar...
Isto aconteceu na casa de uma delas. Resolveram se reunir para colocar o papo em dia. “As atualizações das conversas são mais importantes que o alimento material, que por sinal, só faz engordar, logo eu que estou com excesso de peso”... Sempre estão com excesso de peso. Vaidade? Não! Estética, sim.
Depois de uma mastigação intensa e disfarçada, olharam-se umas para as outras, como quem diz: _ ...e agora, podemos conversar, já que estamos com a barriguinha cheia, com quitutes tão gostosos. Êta casa boa pra gente vir lanchar...
_Lucinha, sabe quem morreu?
_Ô! Zefinha, vamos falar de outra coisa, de morte não, minha amiga, pois eu já estou com o pé na cova, e não quero me lembrar disso... logo agora que comi coisas tão gostosas... Como nosso grupo não fala mal de “amigas”, vamos falar de viagens. Quem foi que viajou recentemente?
Logo salta Dilsinha, que toda espevitada vai logo dizendo: ”Eu fui a Salvador e adorei. Passei dez dias curtindo aquela cidade maravilhosa. Vi todas as praias, o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo, a Ilha de Itaparica e arredores, a praia de Guarajuba, o Projeto Tamar, na Praia do Forte, a 80 km de Salvador. Uma beleza, um ecossistema digno de admiração, gente que se preocupa com os bichinhos que poderão vir a entrar no rol de espécie em extinção. Agora não, elas estão protegidas, pelo menos da sanha humana. A natureza se encarrega de prover o equilíbrio ecológico, a preservação da espécie.
O fato é que a amiga esteve se divertindo durante uma semana ou mais em uma cidade brasileira que pode se envaidecer de suas avenidas asfaltadas e limpas, das vias elevadas, dos viadutos, de uma orla marítima tida como a melhor do Brasil, mas não reconhecida pelos sulistas egocêntricos.
Até tem uma senhora do interior paulista que disse que a tragédia de Brumadinho (que ela escreveu BrOmadinho) devia ter acontecido no Nordeste, e que todos os nordestinos deveriam ter morrido. Além de analfabeta e racista, é nazista e burra.
Esta senhora viageira por excelência, num momento de inspiração, criou uma viagem imaginária para as amigas, transformando-as em passageiras da alegria, no TRENZINHO DA ALEGRIA. Um trem imaginário, com suas rodas imensas cheias de ressaltos e raios, brilhando os sorrisos dos homens ferreiros com seus gorros enferrujados e distorcidos nas cabeças brancas do ofício ferroso; os trilhos reluzindo encantamento e sabores exóticos, com direito a sonhos voláteis e ondulantes em nuvens brancas como neve, e quentes como coração de donzela apaixonada. Algumas vezes os trilhos desprendiam-se dos dormentes adormecidos nos campos de Deus, e ganhava alturas inimagináveis, sobrevoando todos os desejos de suas passageiras que gritavam de jovialidade, como se adolescentes fossem, numa algazarra triunfal. Ah! Como é bom ser jovem, a despeito da idade que se nos acomete. Muitas de suas amigas, parece que 30, embarcaram e embarcam, pelo menos uma vez por mês, em uma viagem imaginária, nos restaurantes da cidade, nas casas das anfitriãs, nas lanchonetes, para comemorar a vida, para fomentarem o fogo da tolerância, do bom humor, das paixões pelos assuntos que revolucionam os papos citadinos, e depois de algumas horas, voltam todas para o recesso de seus lares, felizes, alegres, transpirando tolerância, concessão de boas atitudes, e principalmente, bom humor.
Esta Senhora - FARIA - milagres se tivesse o dom da FADA MADRINHA. Mesmo assim é ela que mexe com os humores de suas amigas, já que não para de saltitar na cadeira onde arreia o corpo dançarino, e não se cansa de aplaudir a vida, de dançar o ritmo da alegria, e de convencer a todas, que todos os momentos da existência devem ser usufruídos com prazer e sanidade mental. Ela é a locomotiva do trenzinho, o foguista, o maquinista e cobrador das passagens para quem quer ir além do marasmo de uma vida doméstica. Haja coração!!! E pergunto: “De onde vem tanto entusiasmo?
No grupo tem psicólogas, fonoaudiólogas, poetisas, professoras, aposentadas, e amantes do bom viver. A psicóloga está sempre tentando levar para suas clientes os ensinamentos adquiridos nas conversas com as amigas. Ela é didática como toda boa profissional, e não descura de suas responsabilidades com os desviados mentais. Nasceu para ajudar, e se realiza assim. Ela tem tanino tenaz, tentando tudo para conseguir sobrepujar as necessidades alheias. Tente tudo, amiga.
A poetisa, estrangeira de nascimento, brasileira por opção, e nordestina de coração, já escreveu em versos todas as plantas do agreste, das amazonas, dos cerrados, e principalmente deixou gravado nas telas, as suas observações dos negros de todos os continentes, com seus brilhos de pele que reluz azulado, exótico, excêntrico e transcendental. Os negros e as plantas se assemelham em suas raízes que deram origem ao homem, haja vista AS SETE FILHAS DE EVA.
A uruguaia de nascimento, ensinou biologia, aprendeu a amar a vida, porque dela sabia os conceitos orgânicos, o purismo da fisiologia, os preceitos filosóficos, e a natureza intrínseca dos seres vivos. Pariu e criou, amou e é amada, partiu e voltou com uma carga de conhecimentos que ultrapassa os saberes primários do homo sapiens. Ela chegou para marcar, para deixar impressa sua marca de personalidade ímpar, veio para fazer a diferença entre os que se lhe reconhecem. Ela sabe sorrir com todos os dentes límpidos e brilhantes.
Há quem venha de uma família de 13 filhos, onde todos comiam na mesma mesa, com os pais, com os talheres ecumênicos da solidariedade; família que se espalhou pelos sertões nordestinos, pelos quatro cantos do país, que deixa marca por onde passa. Edi está sempre alegre, feliz, circunspecta em sua religiosidade e condescendente com os afogados de emoções de perdas corporais. Tem um olhar crítico e observador, e é dona de suas opiniões em qualquer reunião, não cedendo senão a um argumento válido, lúcido e corroborador.
Tem uma baixinha gigante que adora viajar, e por isto mesmo não para em Gravatá. “Onde está Lulu?” “Viajou novamente, e agora pra onde? “ “Ninguém sabe, quando ela voltar a gente fica sabendo”.
Lulu anunciou cheia de orgulho circunspecto:
_Na próxima semana estarei embarcando em um TRANSATLÃNTICO INTERNACIONAL, com destino à Letônia; vamos atravessar os sete mares antes de lá aportar. Meu companheiro de viagem vai ser o próprio Simbat – das mil e uma noites. Quero que ele me conte lindas histórias para me fazer dormir ao balanço das ondas. Quero uma viagem dos sonhos de qualquer ser vivente que tenha inspiração para o lúdico e disposição para aventuras marinhas no leste europeu, e em cuja capital – Riga - tenho um encontro marcado com Vladimir Putin. Vai ser uma viagem maravilhosa, inesquecível, e vou matar de inveja as minhas amigas que só conhecem o sertão nordestino. Quem manda não serem aventureiras. Vamo nóis...
Lulu é casada com o “Senhor das Árvores”; e ele é chamado assim porque mais de metade das árvores plantadas no Parque da Cidade, foi ele quem plantou, graças a Deus... Logo, logo, teremos muitas frutas brotando nas copas das árvores, que poderão alimentar quem não tem o básico para levar para casa.
Uma gentil Senhora, por pura satisfação, ajuda as crianças do CERC – a pronunciar a vida de uma maneira mais audível, com método e disciplina. Quando uma criança nasce com dificuldades para pronunciar as palavras, algo é preciso fazer para corrigir o que a natureza não teve tempo de preparar no útero, e entra em cena as pessoas preparadas pela sociedade constituída, para ajudar a corrigir deficiências inatas. É aí que entra nossa amiga do Trenzinho com seu talento e dedicação para resgatar os menos favorecidos pela sorte, pela mãe natureza.
A amiga que é magrinha, com nariz afilado e olhos expressivos, tem uma voz maviosa de soprano, e na Igreja da Matriz, com seu maestro Fernando Jr. (barítono) canta os hinos eclesiásticos, e enchem o templo de consternação, de fervor e fé, e leva às lágrimas os mais sentimentais. Vale a pena ouvir a amiga aos domingos, quando solta a voz para louvar a Deus.
Digo e repito, habite os seus sonhos, dê vida aos devaneios noturnos, quando nos sentimos sós e protegidos pelo silêncio da noite estrelada. Pegue uma carona na nuvem mais próxima, banhe-se nela com todo o vigor de que possui, alinhe-se com o brilho dos anjos, e escanche-se na beira do arco-íris, lambuzando-se de cores. Vibre todas as diabruras de uma paixão desenfreada, depois vá descansar na curva do quarto minguante. O olhar para baixo verá um mundo colorido de azul infinito, de curvas suaves no Everest, no Himalaia, e na Floresta Amazônica descobrirá que a onça não é má, apenas sente fome.
Quando cansar de sonhar sonhos apaixonantes, volte para sua tapera do amor eterno, para o seio da sua família, para os braços do homem amada, escolhido e escolhedor, para o sorriso que o imberbe filho revela nos lábios quando olha para uma mãe zelosa. Não deseje o impossível, não almeje a fortuna material quando se sabe que o carinho e a ternura de uma família é maior que qualquer fortuna material.
Outro dia ouvi a expressão: _aquele homem é tão pobre, coitado; a única coisa que tem é dinheiro em abundância.
Não queira ser esse homem pobre...
Quando se sentir casada do reboliço das aventuras, jogue-se no regaço do regato, molhe os pés na água tépida, lave a alma, clareie suas virtudes e volte para o lugar que é seu... Jogue os conflitos no arroio, veja-os deslizando para distâncias inalcançáveis, e deixe que o tempo cura tudo sem o recurso de panaceias.
Anchieta Antunes.
Fev/2019