A VIDA SEGUE, SEMPRE

Passava meu café, o aroma que sobe enquanto a água quente encharca e atravessa o pó, já desperta para o dia.

Num lampejo de visão periférica notei o relógio na parede e seus ponteiros parados, destacando que faltavam dez minutos para as seis _Da manhã ou da noite? Como saber?_ Estáticos, desde quando? Uma data exata não tem, mas sei que já fazia um bom tempo. Naquela manhã aquilo me incomodou, diferente de outros dias.

Tantas vezes olhei aquela mesma hora em momentos diferentes do dia, poderia ser 7 horas e o relógio fixo em 5:50, a mesma coisa às 20 horas....e eu me pegava indiferente àquela eternidade artificial.

Por que minha reação mudou? Entre o aroma esfumaçado do café pensei em como minha vida poderia também estar parada, como se meus sonhos e desejos estivessem ligados por fios invisíveis àqueles ponteiros, como se a vida não tivesse mais o tic-tac que lembra que continuamos vivos, era como caminhar no fundo do mar, mas sem paisagem, sem som, sem alegria...

Resolvi que não seria mais assim. É preciso viver, sonhar, realizar, ser intenso no que quer que fosse. A vida corre dinâmica como um relógio em perfeito funcionamento, deixando suas marcas boas ou ruins, mas é vida, não está parada, é movimento.

Respirei fundo, me enchi de oxigênio e cafeína, troquei a bateria do relógio, acertei suas horas e as minhas, o ruído misturou-se aos meus passos quando me levantei, disposto a viver!