NEGRO NO PODER

FRANCISCO DE PAULA BRITO, pioneiro na edição e livros e dono de uma das maiores tipografias da época, sob os elogios do humanista MACHADO DE ASSIS (crônica em janeiro/1865, no Diário do Rio de Janeiro)!

Fundamental no cenário cultural e político do Rio de Janeiro... empreendedor /termo tão em moda agora/ no negócio de jornais-periódicos-livros.

Familiares desde o século XVIII afastados do cativeiro, avós e pais alfabetizados, trabalhadores especializados, ascensão social. Vanguarda do movimento pela abolição com médicos negros, advogados, intelectuais, membros do Parlamento e da Assembleia Constituinte em 1823.

Viveu dos 6 aos 13 anos no engenho arrendado pelos pais em Suruí, perto de Magé; no Rio, estavam o avô Martinho e o primo, livreiro Silvino José de Almeida; em 1824, aprendiz de tipógrafo na Tipografia Imperial e Nacional e cerca de quatro anos depois na tipografia de dois 'mestres' franceses; em 1827, um destes fundou o "Jornal do Commercio" - a independência multiplicou a produção gráfica, boas relações do francês PLACHER com D. PEDRO I que garantiu o impressor imperial. Tipógrafo, mão de obra altamente especializada - em 1831, PAULA BRITO nomeado para um cargo no Senado, comprou a livraria do primo, que vendia impressos e também outros produtos, de água de colônia a charutos, que foram garantindo o negócio até 1840... adquirido o maquinário, começou a imprimir jornais na sua Tipografia Fluminense Brito e Companhia, apenas dificultada pela repressão à imprensa (eterna maldita censura!) pelo Regente Feijó, de 1835 a 1837 - um prelo mecânico foi comprado mesmo antes da própria Tipografia Nacional ter um. Imprimiu jornais e teses de Medicina, e logo em seguida romances, já em 1843 "Um roubo na Pavuna", de Luís da Silva Alves de Azambuja Suzano. Folhetins se multiplicavam nos jornais, editor cauteloso com os riscos na compra dos direitos de uma obra. A seguir, "O filho do pescador", de Teixeira e Sousa, capítulos no jornal "O Brasil". Criou ambiente para romancistas brasileiros num mercado dominado por narrativas francesas. Na década de 1850, abriu a Empresa Literária Dous (assim mesmo!) de Dezembro, a casa do teatro de Martins Pena e Joaquim Manuel de Macedo, muito populares, e do poeta Casimiro de Abreu.

Negro, livre e empreendedor, conectado politicamente com o Partido Conservador e bom trânsito na elite imperial, morreu em 1861 antes das teorias do racismo "científico" (pesquise, caro leitor) chegarem ao Brasil.

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FONTE:

"Negro, livre e editor" - Rio, jornal O GLOBO, 10/6/17.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 24/02/2019
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