Olhar perdido
Estado de alagoas, verão sol e calor, o verde dos canaviais invade retinas, um senhorzinho anda na pista de rolamento. Meu carro avança lentamente em busca de um atalho para ir rumo ao mar, as férias são direcionadas para o desfrute do litoral nordestino, praias e prazeres, vida feliz. Agora eu estou no meio da plantação da cana e cruzo com aquele homem de outra realidade, vivente do campo, magro e velho, sandálias curtidas e deformadas pelas jornadas de sol castigantes; a calça sacode no vento escondendo pernas finas de osso puro: fome. Aquele homem de camisa branca amarelada era o representante da miséria vivida, nordestina no destino em castigos diários, provação diária, dor. Fui observando sua silhueta de galho velho, seco e torcido, seu nariz de quase tucano e a pele de encardida feitura. O rosto quase sem expressão, de amassada tortura já não sabia transmitir emoção, o quase pedra refletia o quase morto humano. Seu olhar era perdido, via além do horizonte, sobre o verde da cana e além, sobre o azul. Ele nada me disse e tudo falou. Parti mais só que cheguei. Acelerei o carro na esperança de ver outras vidas, sorrisos, e crianças brincando... hoje ao me deitar veio-me seu olhar perdido e perdido fiquei até dormir com olhos molhados e tristes.