É engraçado como de repente a vida começa a ficar leve e você passa a entender que muito poderia ter sido evitado, se a experiência fosse carga de nascimento e não de vivência; é tão surpreendente que você sequer tenta alterar a natureza, apenas permite, se permite; e de repente você começa a celebrar coisas tão banais que parece loucura:
Você sorri pra si mesma diante do espelho porque se sente orgulhosa de ter vencido o desejo vaidoso de ser a última palavra, dando espaço para um silêncio, libertador; você se dedica com afinco a permitir que uma imagem fraudulenta sobre outra pessoa seja desfeita apenas com um “será que isso não é fofoca?”, “não me parece que essa pessoa é assim”; você não se preocupa mais em dirigir, nem o carro e nem a vida, porque compreende que tudo é colheita e se não plantou, corre atrás do prejuízo, para tentar, em tempo, ter a visita das borboletas e porque não de flores e beija-flores; você anda tão sensível que um abraço entre pai e filho, tão natural, te dá palpitação; você se respeita enquanto ser e passa a perceber que o Instagram tem os melhores filtros, mas que o clube, a piscina e à praia não negam seus quilos extras, não tatuam as suas estrias, não tapam os seus furinhos (celulite) e nem levantam os caídos, inclusive a autoestima; você chora compulsivamente porque alguém foi curado por um milagre e vem a pergunta: como? Se você nem conhece... Você trava batalhas incessantes, comprando apenas o que precisa e comendo apenas o que te satisfaz; você compra sim um capuccino italiano com creme e sem reservas, porque o preço de um café no momento de prazer, não pode ser valorado, mas sim valorizado; você não cria expectativas, sabe que é tiro no pé e que vai mancar dias, anos, ou amputar o pé, por isso, é prevenção; você olha pro seu pai e sua mãe e se enxerga na mesma posição daqui há alguns anos,lembrando que nem viu que o tempo passou, os traços já não são mais os mesmos e daqui a pouco precisarão do seu amor e você não se amou o suficiente para perceber que sempre precisaram e não o contrário; você julga menos as pessoas e exige de você uma postura, uma atitude, um adeus; você segura as pessoas pelos sentidos, mas não as prende, já abriu os cadeados e agora permite que voem, mesmo que isso lhe custe a asa estepe, ou um soluços, umas noites em claro, um coração na garganta, um AVC emocional, um enfarte da alma, uma morte interna, um caos, um ressurreição; você delega sem peso, não quer ser mais responsável por nada que não seja por si (mesmo depois do segundo copo de vinho); você traça metas, mas muda a rota, atualiza o seu GPS, passa pela ponte, pula o muro, chuta o balde, passa pela peneira, muda o cabelo mas não o domina (e nem quer); você agradece os segundos, chora pelos milésimos e vê na hora um tempo tão grande e tão curto, depende do intervalo, se é para nascer, para morrer, para salvar, para chorar ou para rir; você se vê, nua, despida na alma, em cada detalhe, em cada canto, por cada curva, num espelho que não te engana e que te traz a verdade: a maturidade. Por isso, sigo engraçando porque por um segundo, neste intervalo até aqui, não faltou coragem, inclusive para assumir que crescer dói, é uma lapidação destruidora, mas que resgata o que é invisível aos olhos. Meus 10 últimos anos trouxeram marcas na face, mas radiografia de interior a ciência não tira, quem consegue ver isso, sem máscaras e sem males, sou eu e já adianto, há uma beleza infinita na transformação: Fênix! Pra não perder as origens e viver o que importa. O resto (o que sobrou) eu faço uma limpeza: se der pra reciclar (e sempre dá) recolho, mas se não faz mais diferença, desisto. Eu valho mais que conceitos, verdades condicionadas e orgulho... Porque ser de verdade custa caro e estou pagando por isso, à vista!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 23/02/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6582323
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