EXISTE O EXATO "DIA DO ROCK"?

"Ao balanço das horas" /"Rock around the clock", de FRED F. SEARS/, longa metragem norte-americano, estreou no Rio de Janeiro em 14/1/57 (não me acusem de nada: nasci dez anos e alguns meses depois...) e apresentou o ROCK aos cariocas. Foi um auê! ----- Ante uma avalanche de discos acústicos e ao vivo de qualidade ruim da maioria dos álbuns, como provar na atualidade o sucesso do então recém-nascido "rock brasileiro"? Aconteceu numa segunda-feira, tradicionalmente o dia mundial da preguiça... Muitos cinemas viraram na hora pistas de dança ou 'campo de batalha'. Sob a trilha sonora /"See you later, alligator", do grupo Bill Haley e Seus Cometas, e "The Great Pretender", dos Platters/, centenas de jovens des-tru-í-ram cadeiras e tapetes durante as primeiras sessões. ----- Ora, como o filme havia sido recebido com o mesmo entusiasmo na Pauliceia (já Desvairada antes disso...) e em cidades americanas e inglesas, os cinemas cariocas amanheceram vigiados por comissários do Juizado de Menores e policiais da Delegacia de Costumes. ----- Histeria completa, danças no meio da primeira sessão, às 14 horas, pulos por cima das cadeiras, carpete do chão arrancado para dançarem melhor - luzes acesas no meio do filme, sessão interrompida... e não houve segunda. Polícia! Cines Rian, na avenida Atlântica, e São Luís, no largo do Machado. Algo especial na tela? Coisa nenhuma. Apenas Bill Harley tocando ROCK AROUND......... música da época. A dança continuou na rua, mesma 'cena' repetida em outros cinemas - zoeira-gritos-depedrações na cadência do ROCK AND ROLL. ----- No São Luís, vaiados 20 policiais nos corredores do cinema - alguns jovens foram presos. Grupo acampado na frente do cinema só foi embora por insistência do então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). ----- Na porta do Rian, socavam a capota e portas dos carros que passavam: revolta pelas sessões suspensas. ----- Havia certas gangues de jovens da época, de ruas de Copacabana, que também participaram da 'revolta roqueira'. ----- Apenas palmas no cinema Santa Alice, no Lins de Vasconcelos, sem quebra-quebra. ----- Bomba de efeito moral... fim de (im-)possível força irracional, nada de coisa do demônio... e normalizadas as sessões noturnas.

Enredo --- Lançado um ano antes nos States, o musical estrelado por Johnny Johnston, Henry State e Bill Haley, conta a estória de um frustrado promotor de bandas que numa viagem descobre um grupo do nascente rock. Com a ajuda de um amigo, decide transformar o ritmo numa febre nacional.

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O quebra-quebra começou nos States. No Rio, em Copacabana, um cara entrou de moto num cinema. A Tijuca, bairro de ERASMO CARLOS (que não participou das confusões), era mais tranquilo, constando que o tumulto foi com a turma rica, os chamados transviados. O filme foi um veículo para a música, não estopim. ----- Em contradição ao artista, no tijucano Cine Carioca indescritível algazarra e plateia jogando bombas.

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"O musical que gerou confusão teria pego carona no sucesso do filme "Sementes da violência", de 1955, que traz na abertura o 'single' de AO BALANÇO........." (filme passando em brancas nuvens nos Estados Unidos) - pesquisador PAULO CÉSAR DE ARAÚJO diz que o quebra-quebra foi fruto de sugerida jogada promocional, estratégia de marketing. Música em primeiro lugar na parada americana no dia 9 de julho de 1955, marco zero da era do rock. ----- A musica das bandas do temido ROCK foi lançada antes.

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NESSA DATA --- Na madugada, morte do ator, galã com cara de durão (ou cínico e debochado?) HUMPhrey BOGART, protagonista do filme "Casablanca" que se eternizaria - rádios tocando repetidamente a canção romântica 'As time goes by', tema do filme. // No circuito carioca, estreia dos filmes "Rififi", "As férias do Sr. Hulot", "Planeta proibido", "A 23 passos da rua Baker", "Quinteto da morte" e "Sete homens sem destino". // O dólar valia Cr$64,30 (compra) e Cr$66,30 (venda). // Em outubro de 1956, soviéticos invadiram a Hungria para estabelecer o poder comunista. A equipe de futebol de Honved excursionava no exterior e não regressaram à terra natal; a FIFA proibiu jogos contra eles, mas o Flamengo convidou para amistosos no Brasil o time liderado pelo cracaço Puskas - desembarque no Galeão às 13h45min. // O conflito nascera em julho/1956, quando o Egito nacionalizou o Canal de Suez. Horas antes, no mesmo Galeão, um destacamento de 49 homens, o Batalhão Suez, embarcara para o Egito. Junto com outros 450 soldados brasileiros seriam a contribuição brasileira à Força Internacional da ONU os "bonés azuis", responsáveis por vigiar a trégua entre egípcios, de um lado, e ingleses-franceses-israelenses, de outro.

FONTE

"O dia em que o Rio parou" - Rio, jornal O GLOBO, 14/1/07.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 23/02/2019
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