Só Sexo!

NO QUARTO DE UM CASAL QUALQUER...

(com o quarto escuro, Luisa acende a luz do abajour.)

- Amor... Cê reparou que a gente não tem brigado?

- Sim! (continua com os olhos fechados no travesseiro, deitado de bruços)- Ótimo isso,né, Luisa! A paz! O silêncio na casa e nos nossos corações...

- Não, Luan, não vem com essa filosofia de bar de Cascadura não! A gente não tem brigado, e não necessariamente isso quer dizer que tá tudo bem, ora bolas!

- (abrindo os olhos e se virando de barriga para cima), deitado de bruços)- Ora bolas? Sério que você disse “Ora Bolas”? Cê tá falando que nem sua mãe, Luisa! Daqui a pouco vai dizer que uma coisa é “Supimpa”, ou “Da pesada!”

- A gente não conversa. Agora, por exemplo, são nove da noite, de uma quarta-feira, e a gente já tá deitado, de banho tomado, pra dormir! A gente envelheceu, cara! E isso não tá legal...

- Amor, é D.R que tu quer?Ok! Vou até me sentar (senta-se na cama)... Pronto! Agora fala! O que te aflige? O que te aborrece, bebê?

- Cacete! Não me trata assim! Eu só tô dizendo, que tem uns meses que a gente não briga. Tô com medo de não ser pela presença da paz, mas por comodismo com os problemas desse nosso cotidiano.

-Ué, meu amor de Deus do meu coração! Meu brinquedo de paixão! Se a gente não tem brigado, é pelo simples fato de que tá tudo nos conforme! A gente nem se desentende. Em casa tá tudo bem! No trabalho, idem! A gente não necessariamente precisa brigar pra manter viva a chama do casamento!... Podemos dormir? (deita-se na cama, desliga o abajour)

- Tá!(acende o abajour) - Mas e se na verdade nós estivermos deixando de comentar coisas pequenas do cotidiano que nos incomoda um no outro.

(Luan levanta e senta na cama de novo, impaciente)

- Tipo essa sua unha roxa do pé que você num trata! Ou a mania de tirar casquinha do ouvido e cheirar... São pequenas coisas...

- Tá com nojo de mim!! Ahhhhh! Agora tá explicado, Luisa Cavalcanti Ribeiro! Você tá com nojo da minha unha roxa, que é culpa totalmente sua e do sapato apertado que você me deu no último natal, pois cismou...

- ...Que sapato grande fica feio em você! Sua canela é muito fina, Luan! Se comprar sapato grande, fica que nem um Bozo! Não casei com o Patati, muito menos com o Patatá!

- Mas eu calço 40, ô inferno! Aí passo o dia todo com os dedos oprimidos nesse forno, sentado, e eles ficam roxo, e vossa majestade fica com nojinho! Nunca te pedi pra chupar meu dedo roxo! Nunca te pedi! Não tô te entendendo...Olha Luisa...

- Nem sei mais o que é isso, Luan! Nem sei mais o que é chu... Chuu...Enfim, sabe o que parece? Parece que você num sente falta de... de... de...Você sabe... (faz gestos com as mãos)

- Luisa, nós estamos casados há dois anos... DOIS! Correto?

- Lindos anos...

- Há controvérsias agora...E você num consegue falar nada que vá ser relacionado a sexo? É isso? Estamos regredindo? Já já todos nossos encontros vão parecer primeiro encontro, heim, Luisa! Olha bem para onde você tá levando nosso relacionamento! Trevas e caos!

- Sexo! Pronto! Num fazemos sexo!(bate uma mão na outra) Não conversamos sobre! Não vemos mais sexo na tv. Tá vendo! Não tá tudo bem, cara! A gente inclusive não tem feito.

- Cê quer transar, Luisa? É assim que tu quis entrar no assunto?

- Talvez... Você não me dá abertura!

- Ah, pera lá! Luisa de Deus! Era o tempo todo sexo? Mas será possível! Você deu essa volta toda, até minha unha roxa entrou no pacote, só pra falar que sente falta de sexo? É tipo você parar uma pessoa na rua com um soco na cara, e depois apenas perguntar as horas!

-Eu me sinto oprimida por você, cacete! Você nunca mais chegou se esfregando em mim! Me chamando daqueles nomes estranhos...

- Luisa, nunca te chamei de nome estranho nenhum, Luisa! Que porra de nome estranho é esse que eu te chamava? Agora fiquei até curioso... Na verdade, até confuso!

-Ah, cê sabe...Aqueles nomes...Minha gostosa... Minha... (sussurrando) Minha potranca!

- Eu já te chamei de potranca? Não...

- Sim...

- Eu realmente não tava bem... Devia ser começo do namoro! Tava testando os apelidos que podia! Uma vez chamei uma ex de vaca no meio do sexo, e ela me bateu até eu apagar! Tenso!

- (se ajeitando na cama)- Bem, já disse o que eu queria dizer. Eu disse que não tava bem! Obrigado por me ouvir! (beija ele na boca)

(Luan se empolga e tenta agarrar Luisa, que se cobre e vira-se pro lado)

- Luisa...Ou! Hey! Ou! A gente não ia... A gente não ia...? (faz gestos com as mãos)

- Fala, Luan! Tá engasgado?

- A gente num ia fazer sexo? Num era o motivo disso tudo?

- FAZER?... Não! Que mané, sexo! Amanhã acordo cedo, e não quero lavar o cabelo! Eu só queria conversar. Boa noite, meu gostoso!...Meu... Potranco!

(Luan perde o sono, pega o controle remoto e se afunda nas cobertas. Antes, dá uma esticada para olhar seu dedo roxo no pé, e faz cara de nojo)

FIM

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 22/02/2019
Reeditado em 22/02/2019
Código do texto: T6581750
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