CAMINHANDO PELA RUA

Caminhando pela rua do meu bairro encontrei alguém que há muito tempo não a via. Foram momentos de descontração, perguntas triviais como estás? O que estás fazendo? Já casastes? Esta última pergunta deixou-me desconsertado, pois não pretendia ouvir aquela resposta. Fazer o que? A vida se constitui de idas e vindas e por isso devemos aceita-la tal qual a construímos.

Ela dissera ter viajado muito, desde quando deixara a cidade. Conhecera quase todo o Brasil, viajou pelas Américas como também visitara boa parte da Europa. Eu perguntara:

- Mas fizeste tudo isto em tão pouco tempo? Fostes premiada pela loteria?

- Esqueceste que faz mais de dez anos que saí daqui?

- Tudo isto? Parece que foi ontem nosso último encontro.

- Não te faz de tonto. Quando te vi com aquela loira no Shopping, eu te odiei. Então decidi que era hora de recomeçar uma nova vida, escrever uma nova história.

- Ainda me odeias? Afinal aceitaste conversar comigo neste encontro casual.

- Claro que não. Já passou a fúria. Estou em outra, nada de curtir fossa ou tristeza por um amor que não deu certo, mas que pode reascender dentro de nós, tu não achas possível?

- Mas falaste a pouco que casastes, agora que fica mais difícil.

- Disseste bem, casastes, não falei que ainda estou casada.

- Como assim?

- Estou em processo de separação, penso que em dois meses os documentos do divórcio saem. para assinarmos. A partir desta data serei oficialmente solteira. Perguntastes sobre meu estado civil mas não falastes qual é a tua situação.

- Digamos que estou solteiro...

- Ainda não encontraste o amor da tua vida?

- Encontrei vários amores, mas todos passageiros. Eu me apaixono facilmente como também me desapego facilmente. Penso que ainda existe um vazio dentro de mim e está difícil de preenche-lo. Recordações de um passado, lembranças que insistem permanecer em minha memória. Ah: como foi bom os nossos momentos, nossas transas, nossas viagens...

- Por acaso estás me cantando? Com este olhar malicioso estás viajando longe, te conheço. Pensas que não entendi onde queres chegar?

- Vou abrir o jogo, realmente desejo um recomeço para nós, ou melhor uma nova chance, já que estamos descompromissados. Quero que percebas o quanto mudei. Todo este tempo fiquei pensando em ti, mesmo ao lado de outra mulher, tua imagem vinha em meus pensamentos. Alguns beijos, foram teus lábios que beijara. Desculpe minha ousadia mas não posso reprimir meus sentimentos neste momento, afinal depois de tanto tempo nos encontrarmos casualmente nesta avenida, penso que a natureza está conspirando à nosso favor. Os ventos estão soprando ao reencontro. Não podemos perder mais tempo com firulas e sim acertar algumas dívidas do passado, concordas?

- Verdade, verdade eu nunca te esqueci, porém a mágoa impedira de te procurar há mais tempo, e veja este encontro casual. Concordo que temos de aparar as arestas que ficaram, porém as coisas não acontecem da noite para o dia. Precisamos conversar, dirimir algumas dúvidas...

- Certo. Vamos trocar nossos WhatsApp para um futuro encontro quando nos sentirmos preparados para tal mister. Enquanto isto seguimos nossas vidas dissociados um do outro.

- Tenho uma proposta ousada. No sábado próximo, uma amiga de longa data vai oferecer uma festa para um seleto grupo de amigos, será num clube da cidade vizinha. Posso te levar como meu acompanhante, afinal eu sou a única até onde sei, que vai solitária a esta festa. Vamos nos divertir, cenário ideal para uma reaproximação, aceitas meu convite?

- Aceito, resta saber se tua amiga vai aceitar um estranho no ninho.

- Não te preocupes, eu mesma resolvo esta situação. Ela mesmo tem me cobrado de estar sozinha todo este tempo. Somos como irmãs, confidentes. Eu abro o jogo com ela da minha vida como também ela abre o jogo de sua vida. Tenho certeza que ela vai gostar de ti, fique tranquilo quanto à isso.

- Se tu dizes, quem sou eu para contrariá-la. Estou dentro. Me diga o local e a hora para que possamos nos encontrar.

- Dê-me teu endereço, eu te pego com o meu carro. Serei a “chofer” oficial deste passeio. Na sexta-feira te ligo para combinarmos o horário, certo?

- Ok. Então eu vou de carona?

- Com certeza. Ah! Mais uma coisa, leve roupa de banho, pois a casa dela tem uma enorme e linda piscina, vamos ficar o final de semana, pretendo voltar no final de domingo, está bom para ti?

- Hummm...pensei em voltar segunda pela manhã, estou de férias mesmo.

- Pode ser. Quem sabe mudamos os planos durante a festa?

- Quem sabe...

Nos despedimos com um forte e afetuoso abraço seguido de um beijo carinhoso em nossas faces. A semana passara lenta diante da ansiedade que abatera sobre mim à espera da mensagem de confirmação do nosso encontro. Na quinta-feira no final de tarde, recebo uma mensagem no meu celular propondo anteciparmos para sexta-feira nossa ida à casa de sua amiga. Meio atônito com tudo que estava acontecendo confirmo minha anuência com sua proposta, pois me deixara demasiadamente feliz, sinal de que ela desejava algo além de uma simples companhia.

Na sexta-feira próximo das nove horas ouço a buzina do carro a chamar-me para a nossa viagem. Me fiz de atrasado convidando que ela entrasse enquanto juntava as bagagens, pois já imaginava um final de semana longo. Ao entrar pela porta, vejo uma linda mulher morena com seus lindos cabelos morenos, lábios carnudos, usando uma roupa casual que caíra bem no seu corpo escultural. Meu coração palpitou, meu rosto corou, um verdadeiro frenesi. Ela caminha em minha direção, me abraça longamente, não resistimos. Nos beijamos ardentemente com toda emoção retida nestes anos de separação desejando recuperar o tempo perdido. Adiamos para sábado nossa viagem, pois aquela sexta-feira fora intensa. Cada qual procurou resgatar e vivenciar momentos prazerosos de outrora que ficara na lembrança de tempos idos, mas que agora reascenderam ao nos reencontrar-mos. No sábado pela manhã acordo sentindo um aroma de café vindo da cozinha, eis que me deparo com ela vestindo minha camisa preferida preparando uma mesa farta para o nosso desjejum. Com seu lindo sorriso me chama para acompanha-la e provar do seu delicioso café matinal.

Após um gostoso e refrescante banho...colocamos as bagagens no seu espaçoso carro rumando para a cidade vizinha. Ao chegarmos na casa de sua amiga após as devidas apresentações, ela não permitiu que tirássemos a bagagem do carro alegando ter uma surpresa para nós (nós dois é claro). Ficamos até a metade da tarde compartilhando a companhia de sua amiga entre conversas triviais e banhos de piscina, em seguida rumamos para uma pousada rural que ela, sem me consultar reservara para uma semana de estadia. Esta fora a surpresa mais fascinante que eu tivera em toda minha vida, passar uma semana toda com a pessoa que sempre desejara.....Senti-me surpreso por sua iniciativa, pois não imaginara que ela estivesse afim de dar continuidade a nossa relação interrompida bruscamente num passado distante. Bem...no caminho à pousada conversamos amenidades, demos boas risadas, relembramos momentos especiais que passamos juntos, evitamos falar de nossas experiencias individuais. O que importava naquele momento fora o nosso reencontro quando nos encontrávamos caminhando pela rua. Seria uma mera coincidência? Estaria o universo conspirando a nosso favor? Bem...a pousada nos espera...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 22/02/19

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 22/02/2019
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