VENENOS

Quando eu era criança ouvia dizer “bebeu estricnina, morreu”. Eu nem sabia o que era estricnina, mas pelo papo, boa coisa não era. Mais tarde, fui saber que aquele era mesmo o veneno matador de quem queria dar adeus ao mundo, por já não suportar mais o seu peso... Estricnina.

Havia também quem bebesse soda. E nesse caso, nada a ver com a refrescante soda limonada, mas a soda cáustica, comumente guardada em pacotinhos nas prateleiras das despensas. Todo mundo tinha um saquinho de soda à mão, para temperar o “sabão de bola”, enrolado em pelotas grandes, usado na dura lavagem das roupas de trabalho dos homens na roça.

A soda fervia, era coisa brava. Mas não tão brava como a vida já era naquele tempo. Hoje sei que alguns males são eternos, sempre existiram. As doenças da alma já matavam, só que com outro nome, que não os de hoje. Amores mal resolvidos, paixões guardadas, desilusões profundas embotavam de dor as almas doentes e lá se iam elas aos saquinhos de soda nas despensas.

O tempo passou, a vida não dá trégua. As dores continuam, os venenos também. Mas hoje são outros venenos que matam. Estricnina, quase não se ouve falar. Soda cáustica caiu de moda. Agora são os venenos mais modernos. Não têm cor branca, nem consistência de pozinhos ou casquinhas. Hoje eles vêm a cavalo, assim como o castigo. Velozes e matadores, derrubam árvores e montanhas, atropelam o que encontram pela frente. Possuem alto poder de destruição, com um agravante: abatem coletivamente, de um golpe só, a imensa legião dos mais desavisados.

Um dos venenos mais potentes que tenho visto tem nome em inglês: Fake News! São as notícias falsas que invadem o universo da internet. Ando abismada com a quantidade de veneno espalhada pelas Fake por aí. Pra não dizer que fedem, digo que esses venenos cheiram mal, a quilômetros. Os narizes mais apurados percebem de longe sua chegada. E basta dar uma espiadela pra perceber que vêm carregados de toneladas de maldade.

As Fake News sempre se vestem com as roupas da verdade. Mas são tão escancaradas quanto a própria mentira. Um triste visual que não engana os olhos mais treinados. E o mais terrível é vê-las seguindo viagem, rasgando espaço e contaminando mundo afora os mais ingênuos e bobinhos. Sem medir as consequências, vão espalhando seu rastro fétido e sórdido pelos botões dos “compartilhamentos”, deixando atrás de si alguns dos traços mais ocultos do ser humano. Ah, que tristeza ver tudo isso acontecer em século de tecnologias tão fantásticas, que bem poderiam ser canalizadas para o bem!

A mentira tem pernas curtas? Tinha. Hoje tem uma velocidade alucinante. E arrebata como seus divulgadores até aqueles em quem, há pouco tempo, a gente depositaria total confiança e credibilidade. Quando digo que vivemos tempos incertos e sem rumo, tenho toda razão. Juro! Que saudade do tempo das estricninas e das sodas cáusticas, quando só morriam envenenados os que assim escolhiam...