Latão de Leite

Hoje me deparei com uma foto no Facebook de um tambor de leite na beira de uma estrada poeirenta, e me suscitou alguns devaneios...

A vida é um estradão sem fim, na qual vamos deixando lembranças e sentindo saudades. E sempre querendo que nossos descendentes tivessem vivido o que vivemos e o que vimos, com parcimônia é verdade, com pouca tecnologia, na maioria das vezes apenas com o conhecimento que a natureza deu e que os ancestrais nos transmitiram. Parece que a felicidade, apesar dos pesares, nos acompanhava na caminhada, sempre muito próxima. Ah! Que bom se todos tivessem vivido o que vi e vivi! Teriam hoje um coração mais leve, mais voltado às coisinhas simples, mais cordatos, mais exigentes quanto à honradez e a ética, já que outrora vivemos tempos nos quais o "fio de bigode" era aval de nossas promessas, onde a palavra dada era lei, onde a vergonha era não ser reconhecido pelo seu caráter e pelas suas atitudes, por vezes até rudes, mas com firmeza no caminho do que era correto e justo.

Nesse tempo, a justiça só existia para aqueles que perdiam essas condições simples de viver em sociedade, perdiam aqueles valores os quais os outros faziam de tudo para preservar e transmitir aos seus descendentes. Aquelas imagens singelas de beira de estrada simbolizavam o árduo trabalho de alguém que, nem bem raiava o dia, já havia feito a ordenha e já labutava em outro canto da propriedade. Era um trabalho duro, mas que, ajudou a colocar esta terra abençoada no caminho do progresso, muito embora os calos da mão e as marcas da lida no corpo, não sejam mais reconhecidas como sinais da luta cotidiana para dar melhor conforto à família e à sociedade de forma geral. Foi usada como instrumento na falta de equipamentos que hoje estão por todo lado. Elas criaram os modelos mais básicos dos utensílios hoje industrializados e que tornam a vida no campo mais amena, menos sacrificada.

Assim, a foto me lembra muita coisa, e principalmente a luta dos bravos que viveram outrora para que hoje possamos transmitir de forma escrita essas impressões, coisa que na época era apenas privilégio de alguns.

Estamos avançando, com muito mais gente que antes buscando sua forma de viver, tornando mais ásperas as contendas e sem muita ética na busca do lugar ao sol. O avanço tecnológico coloca as pessoas de volta naquela selva a ser desbravada, eis que, por mais que faça, vai ficando na estrada longa sem visão do que estará sendo bom no próximo ano, tal qual outrora escolhíamos a safra a ser plantada, só que agora, são as profissões que vão sendo tragadas pela alta performance de tecnologias e máquinas. Antes, do nada podia-se tirar alguma coisa usando a inteligência, a prática e a habilidade na construção das coisas. Porém hoje, a competição acirrada é com softwares e sistemas, desenvolvendo as melhores formas de se produzir, com uso cada vez menor das mãos do trabalhador moldando as coisas, e com exigência de estudos cada vez mais elevados e que vão fazendo a seleção natural, tal qual outrora. Sobreviverão sempre os fortes, os bravos, os destemidos e dispostos a, de forma agora metafórica, colocar o leite em tambores e latões na beira das estradas, mas que, guardada a distância no tempo, nos fazem ver que tudo se transforma nessa necessidade infinda de contribuir para o engrandecimento da nação.

Ficam as lembranças e o saudosismo daqueles cuja imagem de um simples tambor de leite na beira da estrada provoca. O advento do progresso, deixará no tempo, semelhantes lembranças e o acalento de sonhos dos que tem ainda um estradão para caminhar, com visões de imagens diferentes, mas que as levarão para o futuro, e, quiçá lá no ocaso da vida, para as relembrar saudosos de seus também bons tempos vividos!

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(By MAP 21/02/2019 - Insight 19:24hs)

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 21/02/2019
Reeditado em 21/02/2019
Código do texto: T6580834
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