SOBRE PROFESSORES "INSUPORTÁVEIS"
De início, rejeitou a ideia de dividir a mesma sala com aquele homem, para ela insuportável. Sua mania de julgar sem dar às pessoas tempo para que se mostrassem, quase pôs tudo a perder.
- Ah, não, ele não!
Dois encontros antes da primeira aula havia sido o suficiente para que ela se angustiasse pensando em como seria aquele semestre. Um sofrimento inevitável, já que teria que cumprir sua parte no curso, obediente ao que determinasse o planejamento do professor.
- E pensar que vou ter aulas com esse cara chato e metido a engraçado! Ah, Deus, como eu sofro!
Até que chegou o dia “D”... de “Droga, é ele!”. E lá estavam seus colegas, a moça e o professor Neto. A criatura já nem sabia existir, diante do pânico. Imaginava que a qualquer momento seria confrontada, de alguma forma, pelo professor, e temia pelo seu comportamento. Poderia reagir de forma inadequada ou até mesmo desrespeitosa.
Para sua surpresa, foi tudo bem naquela aula. Aliás, muito bem! Uma aula fantástica, daquelas que encanta os piores alunos. Estava deslumbrada com o profissionalismo e carisma daquele homem, que nasceu para estar ali (e que podia ter nascido para estar com ela).
Bastou uma aula para cair por terra todo o seu julgamento precipitado. Percebeu-se uma tonta. Agora tonta e deslumbrada!
As aulas seguintes foram tranquilas (não faltou a nenhuma!). Os olhinhos da moça seguiam o professor em cada movimento que fazia. As cadeiras postas em círculo facilitavam sua visão.
[...]
Ao final da disciplina, confessou ao professor sua perversa atitude de julgá-lo estupidamente, baseada nas impressões iniciais de um encontro, reforçadas, não pelo segundo encontro, mas por sua mania doente de querer saber tudo. Aproveitou para elogiar o brilhante desempenho do docente em suas práticas de sala de aula.
Ele, embora chocado, agradeceu a confiança e declarou-se feliz pela capacidade da moça de reconhecer-se intolerante e voltar atrás em seus conceitos.
Mas a melhor parte da história vem agora. Tempos depois, ficaram amigos no Facebook. Amizade virtual firmada, um belo dia em que passou a manhã sem acesso à internet, quando percebeu, havia no Messenger a intrigante notificação: “Neto está acenando pra você”. Uau!
Porém, mesmo lendo a recomendação do aplicativo “Acene para Neto também”, resistiu, por dois motivos: primeiro, por achar o “acenar” tão chato quanto o “cutucar” (funções sem sentido pra muita gente); segundo, porque não esperava que ele, o professor, fosse capaz de acenar pra ela. Era querer demais da vida!
Descendo a barra de rolagem, algo que só aumentou a euforia da moça: “você não atendeu uma ligação de Neto”, seguida da recomendação “Retornar para Neto”.
Inacreditável! “O que ele poderia querer?”, pensou. Mas não com a razão. Tomada por alguns questionamentos, a mocinha viajou na maionese, como diz o outro, permitindo à sua mente engenhosa muito além do que ela imaginou que fosse capaz. Coisas de quem pensa que sabe tudo.
Pensou: “Não acredito! Será que... não, não pode ser! Ai, meu Deus, será que eu tenho coragem? Mas ele é casado, disse isso várias vezes nas aulas!”
Mesmo assim, deixada de lado a excitação pela remota possibilidade, tomou coragem e digitou: “Olá, estava sem internet. Tudo bem?”
Preparava-se toda, mas toda mesmo, para a bendita resposta, quando ele respondeu:
“Tudo. Devo ter ligado por engano.”