VIDA
VIDA
Vida é sopro frágil e, ao mesmo tempo, é energia forte. Sinto-a impulsionando-me desenfreadamente, em certos momentos, como um touro descontrolado e indomável. Em outras ocasiões a vida se arrasta e me arrasta a lugares ermos e sombrios. Tento recuperar aquela energia perdida que já senti e, esta tentativa, parece me levar para mais fundo. Vida tem tudo a ver com o contacto com a natureza: passear à beira-mar, mergulhar com peixes, subir uma encosta, embrenhar-se no mato, abraçar uma árvore. Mas, ao mesmo tempo, tem a ver com o ser humano; talvez a parte mais difícil seja a de relacionamentos. Como é diferente o que sinto ser vida do que qualquer outra pessoa; conhecidos, parentes, escritores e filósofos já lidos. Como isto acontece? Dizem que, na realidade somos três seres distintos: quem pensamos, analisamos e sentimos que somos; quem os outros pensam, sentem e analisam que somos e quem de fato nós somos. É, exatamente, aí que gostaria de chegar! Quem, de fato, eu sou. Há momentos inspirados, em que sou lírica. Horas românticas, em que sou apaixonada. Se me dedico a um tema, sou séria e profunda. Socialmente, na maioria das vezes, sou alegre e me apraz a brincadeira. Em família penso que somos todos cobradores porque enxergamos mais o que nos devem do que, como disse Kennedy em relação à Pátria, o que eu posso fazer pelos outros. Além disto, o núcleo familiar comporta competições, laços sangüíneos, mágoas de infância, tolerância e compreensão nos problemas mútuos, atritos por nada.
Vida é pensamento, vontade, desejo, planos e sonhos, ambições e decepções. Moto contínuo, variando como as condições atmosféricas, com nuvens de diferentes cores e espessuras. Como o céu que adquire diversas tonalidades de acordo com a hora do dia, do anoitecer, da noite e da aurora.
Vida é, principalmente, o palpitar do coração, não o órgão vital do corpo humano, mas o símbolo de todos os sentimentos. Este avançar e recuar; este jogo de cintura como se eu voltasse à infância e estivesse brincando com um invisível bambolê, aquele círculo de plástico colorido que, com o balançar das ancas, gira em torno de nós sem cair.
Vida também é o ato sexual que gera vida, para os pais e para o ser que se forma, em conseqüência do mesmo. Embate e enlace; combate e abraço; compatibilidade e, ao mesmo tempo, incompreensão porque é impossível penetrar no sentimento íntimo, no pensamento mais profundo do outro. Sempre restará a dúvida: o que foi tudo isto que eu senti e vivi? E, será que foi vivido da mesma forma pelo outro? Se não foi assim, como foi? Mais perguntas que respostas, aliás, como tudo na vida.
Que mais poderia dizer? Vícios e preconceitos? Não. Acho que estes últimos são mais opções de vida e não a própria, que independe de escolha. Ela é! Estranha esta expressão. Faz-me lembrar o Antigo Testamento onde Moisés pergunta a Javé: Quem eu digo ao povo que me mandou? E Deus responde – Diga que "foi Aquele que é". Então vida tem a ver com o Criador que a gerou do ato de Sua Vontade e fez o homem.
Então volto ao princípio do texto: "Vida é sopro"!