Sou Mônica Cordeiro.
Mas poderia ser Kelly Cristina Cadamuro, 22 anos, cruelmente violentada e assassinada por um criminoso, em cumprimento de pena, que ao gozar de benefícios assistenciais de incentivo a inserção na sociedade voltou a atacar.
Sou um corpo físico material firme, composto de músculos e pele, sensível ao toque.
Mas poderia ser um corpo em deterioração pós morte violenta, lesionado, violado e descartado, como se lixo fosse.
Sou um poço profundo de sentimentos de dor porque o medo me toma a cada saída, como se aquele último adeus fosse uma despedida.
Mas poderia ser alguém que iria visitar a família do namorado e aproveitasse a oportunidade para dividir os custos de uma viagem que parecia cara, mas custou uma fortuna. Custou o último sorriso por causa de alguém que não só roubou, mas violou o que tinha de mais sagrado naquele corpo desnudado.
Eu sou Mônica, feminina (gênero), mulher quanto à designação científica. Não um sexo frágil, mas um corpo fragilizado, fraco, angustiado que vive à mercê de uma lei vulnerável e de um mundo em que dezenas de “lobos se revestem de cordeiro” e abusam da “inocência" atrelada a necessidade de sobrevivência, num mundo capitalista, que não permite que todos vejam o sol sob a mesma perspectiva.
Sou Mônica e quero justiça!
Mas poderia ser Alice, Eloah, Júnia, Adriana, Marcela, Luíza, Eva e Maria. Que receberam como última homenagem um suspiro profundo de quem, mesmo gozando de iguais direitos no papel, vive vulnerável por causa desta tal fragilidade.
Sou Mônica, mas sou centenas de mulheres violentadas em sua essência e apagadas de sua história como se tivessem o “direito” de mudar os personagens.
Sou Mônica e sou resistência.