Dívida histórica
'Dívida histórica' é uma das armas políticas concebidas para emascular todos os que os espertalhões pretendem oprimir, explorar. Havendo, na história do Brasil, um período constrangedor, do qual os brasileiros não temos boa memória, do qual não gostamos de nos recordar, e que nos aterroriza em nossos pesadelos, o da escravidão, os políticos, almejando explorar-nos, sugar-nos as riquezas por nós produzidas, intelectuais e empresários e artistas a cumpliciá-los, dão-lhe uso de arma política, coonestando esta, para, chantageando-nos, desvirilizar-nos a ponto de levar-nos a nos genuflexionarmos perante eles. 'Dívida Histórica' é só uma arma de chantagem emocional. Os brasileiros, cientes do sofrimento das pessoas que, oriundas da África, comeram, em terras brasileiras, do pão que o diabo amassou, bombardeados por propagandas diárias, na mídia, na escola, nas artes, propagandas que emprestam ao Brasil a aparência de um país injusto em que os negros de origem africana são os eternos explorados e os brancos de origem lusitana seus perpétuos exploradores, sucumbimos à chantagem, à agressão, e admitimos políticas, tendo-as como corretas, justas, reparadoras de injustiças históricas, políticas que, ao contrário do que ensina a propaganda, foi concebida para prejudicar-nos e estabelecer um sistema legal de injustiças, tratando como desiguais cidadãos que, diante da lei, teriam de ser tratados como iguais. Políticas sociais, sob inspiração do movimento progressista, politicamente correto, militante, concedendo tratamento distintos a indivíduos agrupados em coletivos, estão gerando desigualdades ao invés de corrigir as existentes. Se houve, num passado recente, no Brasil, injustiças, os negros provenientes da África sofrendo nas mãos de brancos de origem européia, não há razão, hoje, para dar como injustiçadas pessoas que descendem dos que sofreram há mais de um século e fazer dos descendentes dos que a estes infligiram o sofrimento os culpados. Assemelha-se a uma relação comercial: há os credores, os descendentes dos negros, e os devedores, os descendentes dos brancos. Mas estes não contraíram nenhuma dívida, pois não são culpados pelos pecados de seus ancestrais. Além disso, não se pode desconsiderar dois detalhes relevantes: havendo muita miscigenação no Brasil, muitos brasileiros descendem tanto do escravocrata quanto do escravo; e, muitos brasileiros descendem de povos que não estão na conta dos escravocratas, tampouco na dos escravos, caso dos que descendem dos japoneses que emigraram para o Brasil no príncipio do século XX, e dos que descendem dos italianos, e dos dos alemães, e dos dos ucranianos, e dos dos sul-coreanos, e dos dos gregos, e dos dos sírios, e dos de outros povos que emigraram ao Brasil nos anos que se sucederam aos durante cujo período persistiu o sistema escravagista - e não se pode negligenciar: muitos brasileiros descendem de portugueses e de negros de inúmeros países africanos que vieram ao Brasil após a alforria propiciada pela Lei Áurea.
E é injusta a 'Dívida Histórica', pois muita gente que, não tendo o fenótipo do negro, está na qualidade de devedora, sendo que enriqueceu, imensamente, o Brasil, em muitos aspectos, desde o econômico, presenteando o país com técnicas comerciais inovadoras, até o do tipo do brasileiro, com a mistura de povos, passando pelo cultural, artístico, religioso. É imensurável a riqueza que todos os povos que emigraram para o Brasil no Brasil criaram. Ergueram fortunas incalculáveis, construíram impérios empresariais, erigiram uma cultura formidável.
E tal gente está sendo punida por políticas de reparação histórica que criam outras injustiças, inúmeras, cujas ressonâncias políticas e culturais são visíveis, pois estão a romper o tecido social já em farrapos e redundando em conflitos entre brancos e negros - e este é o propósito inconfessado dos propugnadores de tais políticas. E em tal desejo de ir em favor de um povo - o negro - é-se ingrato e injusto com muitos outros. Brasileiros descendentes de alemães, estabelecidos nos estados do Sul, principalmente, e brasileiros descendentes de japoneses e de italianos, em São Paulo, e brasileiros descendentes de árabes, no Amazonas, além de muitos outros, milhões de outros, brasileiros descendentes de imigrantes de dezenas de outros países, fincados seus pés no Brasil, contribuíram para a riqueza nacional, e merecem gratidão, e não o tratamento que se concede a devedores impenitentes.
No Brasil, os negros ganharam um novo lar, que não é um mar de rosas, mas nele eles podem usufruir de muitos bens que a civilização oferece, e um deles é a liberdade para exercer seus gostos, manifestar seus pensamentos, externar sua religiosidade. E gozam de tal liberdade porque é o Brasil uma nação cristã.
E Portugal, o vilão sempre indigitado pelos militantes politicamente corretos, foi, ao seu modo peculiar, aos trancos e barrancos, bem-sucedido na ereção da nação que hoje atende pelo nome de Brasil. Envergonhar-se do Brasil é demonstrar desapreço pela fonte telúrica da qual nos alimentamos nós brasileiros. Condenar Portugal pelos seus vícios e não o louvar pelas suas virtudes, desprezando-o, virando-lhe as costas, é, além de ingratidão, estúpidez e covardia, pois se está a se curvar perante aqueles que usam de expedientes criminosos para debilitar a vontade do povo, induzindo-o a detestar a terra que lhe dá de comer. Foi Portugal que deu ao Brasil a religião e o idioma que o fazem um país íntegro, conquanto revele muitas deficiências. Foi Portugal que nos deu a nós brasileiros uma alma que nos faz capazes de, num amálgama consistente, fundir culturas tão distintas, de idiossincrasias que em outras terras, colidindo-se, promoveram conflitos que se perpetuam há séculos. E é esta alma que os que promovem a política da 'Dívida História' e outras políticas similares almejam aniquilar.
Que injustiças sejam reparadas, mas não em detrimento de milhões de pessoas, identificadas como injustas, e sem se criar outras injustiças ainda mais maléficas do que as que se deseja eliminar.