Notas d'Insônia I

Não dormi noite passada. Não dormirei hoje. Não sei se tornarei a dormir. Meus olhos queimam… meus olhos que viram tanto… que passarão ainda tanto tempo a queimar. Quanto vai durar? Não sei. Não penso. Dentro da noite, delírios, pesadelos, minha insônia, uma mistura de fatores que criam um inferno.

Aline veio hoje pela manhã. Estava preocupada. Seu gato tinha sumido. Pergunta-me se eu o vira. Não, Aline, não vi. Aline foi embora, caminhando com doçura: that’s what make a Gumbie Cat! Olhei para ela, com meus olhos em chamas, e sorri.

Verwandlung, pronúncia difícil. Todos insetos neste mundo onde ninguém é Deus. “Tudo aquilo que eleva o homem acima da grosseria de suas origens, tudo o que contribui para fazer dele mestre dos elementos, tudo isto, é a cultura”. E a cultura nos trouxe até aqui. Soldados destroçados de uma armada falida, derrotada implacavelmente numa guerra sem sentido… por delicadeza, ganharíamos o céu.

Que foi feito daqueles sonhos razoáveis, daquelas idéias burguesas, do comedimento ensaiado para causar uma boa impressão? Agora, todos os que o encontram dizem: como está mudado aquele rapaz! Mudado, mudo, ele passa todos os dias, kantianamente, pela mesma calçada. Ele explora com um olhar lascivo todos os corpos que passam. Ele versifica cada pensamento em alexandrinos para a platéia de suas neuroses. É para ele que as ambulâncias executam sua sinfonia de sirenes. O canto das sereias é, para ele, o futebol.

“Você não vem hoje?”, pergunta-me alguém do outro lado da linha. “Não. Estou muito cansado. Vá sozinho, hoje. Eu não posso”. Desligo o telefone e, enquanto acendo o cigarro, vou repetindo comigo mesmo, “eu não posso. Não hoje, I prefer not to”.