Pequenas histórias 168
Para os amigos
Para os amigos que me leem todos os dias
Não tendo o que fazer com os dedos impacientes a alisar as letras brancas no teclado preto, pôs-se a pensar no que deveria eles escrever na sucessão dos seus movimentos. Isto é, não se preocupou quais letras fosse os dedos pressionarem, contando que saíssem na tela amorfa do monitor numa sequencia lógica, assim como a lógica de viver não tem sequencia, pousou o sentimento no desvão das possibilidades que lhe pudessem concatenar o alinhavo dos seus dizeres.
Colocou-se no aconchego da cadeira cujo espaldar chegava até o meio das costas, reclinou-se na massa quente do meio dia, esticou os braços acima da cabeça, e, num lânguido movimento proporcionou ao pensamento divagar a esmo por sobre os papéis em cima da mesa, passando em seguida para os lápis e canetas numa disputa de ordem em que foi obrigado dar atenção ao telefone, ao grampeador, ao perfurador, e ao restante de utensílios que sua necessidade, no dia a dia, veria utilizar.
Num volteio de cento e cinquenta graus, deslanchou o olhar pelo ambiente meio vazio de sobrevivência humana, adquirindo consciência dos fatos obrigatórios correspondentes a cada um.
Não deu importância, tanto aos fatos como a sobrevivência humana, que nesse momento, aos poucos adentrava na sala interrompendo estritamente o silêncio amigo de escritores, pintores, poetas e filósofos.
Assim sendo, deu por encerrada suas divagações, escrevendo o último parágrafo, clicando em Arquivo, Salvar e, em seguida encerrou o Word, e fechou o micro fazendo o branco do monitor ser invadido pelo preto.
Sorriu se satisfeito não sabia, mas sorriu e se congratulou pelo fato de mais uma vez ter escrito palavras que completasse seu exercício diário.
Sorriu, novamente. Levantou-se e como chegou, saiu para a aventura que lhe esperava na calçada da vida.