SER GRATO SEMPRE.

Havia muito o quê fazer, aliás, os meus dias têm sido idênticos neste quesito.

Devo, sem a menor sombra de dúvidas, ser grato por tudo, assim aprendi. Ensinaram-me a agradecer ao eterno por todas as coisas que acontecem em minha vida, sejam elas boas ou ruim, enfim, — ingratidão fere o coração do pai e não pretendo fazê-lo. Entretanto, como filho, deixo nestas palavras as minhas mais sinceras e singelas lágrimas ao pai que está no céu, creio que ele as compreenderá.

Como disse anteriormente, ‘havia muito o quê fazer'. Faz cinco meses que estou trabalhando — glórias á Deus por isso — Não tenho vergonha em dizer que sou balconista de um açougue. Profissão que eu havia exercido há tempos atrás, e que me valeu uma recolocação no mercado de trabalho. Durante toda essa semana que passou, logo no início das minhas jornadas de trabalho, fui direcionado pelo meu líder a fazer certa tarefa, que, para muitos, é por demais inglória, não para mim.

Foi em um desses dias, executando essa tarefa penosa — Permita-me explicar: “Esse serviço consiste na limpeza de 'cubas', que são grandes caixas de plástico onde se armazenam as peças de carne e ossos logo após a desossa. Essas caixas devem ser lavadas todos os dias, são inúmeras cubas a serem limpas diariamente, por isso, o trabalho torna-se inglório para alguns”. Durante a tarefa meus pensamentos foram tomados pelas lembranças…

“De repente, é como se eu estivesse voltado no tempo, à fazenda da Lindóia, talvez no ano de 91, á minha antiga casa… As paredes continuavam com a pintura descascada, as janelas e as portas de madeira, com suas tramelas velhas quase a se soltarem. Naquele pequeno 'vilarejo', se é que posso designá-lo assim, havia um poço, ou, como conhecíamos, ‘uma cisterna’ pública, onde todos os moradores se beneficiam de suas límpidas águas. É como se eu estivesse lá, não sei explicar, mas é como se eu estivesse lá. Retirei a água por um mecanismo mecânico, não era bomba elétrica e nem cordas amarradas a um balde, giramos uma manivela, e aquela ‘engenhoca mecânica’ bombeava a água por um cano e a despejava cristalina no balde. Era como se eu estivesse retirando água para fazer o almoço.”

O pensamento se dissipou repentinamente ao som da voz do meu colega,'Camilo', que trouxera outras cubas para serem limpas, tão mais sujas de sangue e dejetos de carne quanto às primeiras. Agradeci-lhe, enquanto ele levava as que estavam limpas, retornei ao meu ofício solitário. Tentei retomar o pensamento anterior, mas, todos os meus pensamentos se dissiparam, como nuvens que passam apressadas, continuei o meu trabalho tranquilamente.

Sou grato á Deus por tudo, principalmente pelo passado maravilhoso que tive, por cada ano que vivi no reino encantado da minha infância, chamado ‘Lindóia’. Os dias passam rápidos, e os anos os engolem impiedosamente, os anos nunca saberão o quê os dias me ensinaram, tudo se faz novo, entretanto, as boas lembranças sempre ficam arquivadas no cofre da memória.

A vida é curta, por isso, a meu ver, ser feliz é a arte de valorizar cada momento, é aprender com a própria vida, enfim, a reclamar menos e agradecer mais. Todavia, meu caríssimo amigo leitor, somos crianças nessa vida, filhos inexperientes que às vezes chora com as circunstâncias que ocorrem. O tempo… O que dizer desse paciente professor sempre pronto a nos ensinar, moldando os nossos duros corações.

Aquele dia terminou em paz, retornei para casa, cansado, com dores fortes na coluna, mas feliz, por tudo. A cada dia aprendo a ser mais grato, a ser feliz comigo mesmo, para assim esbanjar felicidade com aqueles que me rodeiam.

Difícil tarefa eu confesso, mas não impossível.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 17/02/2019
Código do texto: T6577092
Classificação de conteúdo: seguro