CALMA, ANDRÉ
Eu era ainda estudante, estagiária na emergência do Hospital do Andaraí. Lá vi muita coisa, aprendi muita coisa, mas não tanto quanto o que aconteceu no dia de André ser carregado pra lá, que acabou diante de mim...
Ele era conhecido, pois tinha surtos, tinha alucinações, roubava, se drogava, mas nunca matou nem agrediu ninguém - pelo menos até aquele dia.
Soube disso em questão de segundos, enquanto os guardas o continham em agressividade completa, querendo agredir os ferozes inimigos de seu cérebro, e, assim, agredindo todos à sua volta.
Ao lado dessa cena (um moço lindo, jovem, moreno, um gatinho), estava a sua mãe, chorando, explicando pra mim que ele tinha epilepsia temporal e não estava tomando seus remédios.
De repente, com a força que ele tinha, fugiu pela rampa de saída do Hospital, e os guardas que o levou, não mostraram interesse em resgatá-lo, simplesmente o deixando correr pelo pátio!
Imediatamente consegui um "sossega-leão", pra aplicar na veia dele; gritei para os guardas me seguirem; corri aquela rampa; pedi pros policiais imobilizarem os braços dele e o deitarem de bruços; deitei em cima dele, com as pernas abertas, no chão, achando o acesso venoso pra acalmá-lo.
Ele em segundos se acalmou, apesar de ter me machucado, mas, em cima das suas costas, sussurrei: Calma, ANDRÉ!
Se eu cuidei de um bicho selvagem foi naquele dia. Eu o contive e no dia seguinte ele foi internado no hospicio penitenciário, que ele já conhecia muito bem.
É claro que a gente não deve discriminar ninguém, mas aquele moço, com aquela mãe desesperada, mostravam que eu estava diante de um drama, não de um criminoso!
Vendo recentemente um vigilante de um supermercado sufocando um delinquente, ignorando a população, ao lado de vários policiais que nada fizeram, eu me reverto à cena de uma estudante de medicina, uma mocinha, ao lado de um monte de homens pra me ajudar, que resolveram vestir a minha camisa e sossegar aquela alma perturbada.
Não consegui saber muito sobre a evolução de André, mas espero que tenha tido um bom destino.
Fiz a minha parte. Parece que o vigia do mercado, esse que matou um drogado, que não oferecia mais perigo, resolveu solucionar a coisa sufocando-o com golpe de luta - com vários outros seguranças, passivos, assistindo o assassinato.
Eu era ainda estudante, estagiária na emergência do Hospital do Andaraí. Lá vi muita coisa, aprendi muita coisa, mas não tanto quanto o que aconteceu no dia de André ser carregado pra lá, que acabou diante de mim...
Ele era conhecido, pois tinha surtos, tinha alucinações, roubava, se drogava, mas nunca matou nem agrediu ninguém - pelo menos até aquele dia.
Soube disso em questão de segundos, enquanto os guardas o continham em agressividade completa, querendo agredir os ferozes inimigos de seu cérebro, e, assim, agredindo todos à sua volta.
Ao lado dessa cena (um moço lindo, jovem, moreno, um gatinho), estava a sua mãe, chorando, explicando pra mim que ele tinha epilepsia temporal e não estava tomando seus remédios.
De repente, com a força que ele tinha, fugiu pela rampa de saída do Hospital, e os guardas que o levou, não mostraram interesse em resgatá-lo, simplesmente o deixando correr pelo pátio!
Imediatamente consegui um "sossega-leão", pra aplicar na veia dele; gritei para os guardas me seguirem; corri aquela rampa; pedi pros policiais imobilizarem os braços dele e o deitarem de bruços; deitei em cima dele, com as pernas abertas, no chão, achando o acesso venoso pra acalmá-lo.
Ele em segundos se acalmou, apesar de ter me machucado, mas, em cima das suas costas, sussurrei: Calma, ANDRÉ!
Se eu cuidei de um bicho selvagem foi naquele dia. Eu o contive e no dia seguinte ele foi internado no hospicio penitenciário, que ele já conhecia muito bem.
É claro que a gente não deve discriminar ninguém, mas aquele moço, com aquela mãe desesperada, mostravam que eu estava diante de um drama, não de um criminoso!
Vendo recentemente um vigilante de um supermercado sufocando um delinquente, ignorando a população, ao lado de vários policiais que nada fizeram, eu me reverto à cena de uma estudante de medicina, uma mocinha, ao lado de um monte de homens pra me ajudar, que resolveram vestir a minha camisa e sossegar aquela alma perturbada.
Não consegui saber muito sobre a evolução de André, mas espero que tenha tido um bom destino.
Fiz a minha parte. Parece que o vigia do mercado, esse que matou um drogado, que não oferecia mais perigo, resolveu solucionar a coisa sufocando-o com golpe de luta - com vários outros seguranças, passivos, assistindo o assassinato.